Muitos artistas no mercado musical enfrentam uma dificuldade comum: a venda de shows. Não é incomum que este seja um dos maiores dilemas para quem busca consolidar uma carreira. O cenário é desafiador, mas a raiz do problema raramente está na qualidade artística.
A verdade, muitas vezes dolorosa, é que essa barreira reside na falta de um planejamento comercial estratégico. Há uma inclinação natural para o que é ‘gostosinho’ e emocionante, como a criação, em detrimento de ações mais pragmáticas e menos glamourosas, mas igualmente essenciais.
O Dilema por Trás da Baixa Venda de Shows
O mercado musical frequentemente direciona os artistas a um foco intenso na produção artística e no marketing. Investe-se pesado em DVDs, CDs, gravações de músicas e liberação de direitos autorais, buscando a perfeição sonora e visual.
Tudo isso é vital para a identidade e portfólio de um artista, claro. No entanto, é comum que a alocação de recursos seja desequilibrada. Um orçamento de R$ 100.000, por exemplo, poderia ser dividido de forma mais estratégica, mas isso raramente acontece.
Imagine destinar R$ 40.000 para a parte artística – gravações, produções audiovisuais. Outros R$ 30.000 iriam para o marketing: blogs, Spotify, YouTube, rádio, impulsionamento de conteúdo. E os R$ 30.000 restantes?
É aqui que muitos projetos falham. Esses R$ 30.000 deveriam ser o combustível de um plano comercial robusto, mas frequentemente são negligenciados, ou usados para ‘complementar’ outras áreas, movidos pelo prazer de criar e pela certeza do produto final, e não pelo resultado incerto da venda.
Investimento Consciente na Venda de Shows
A relutância em investir diretamente na venda de shows muitas vezes se baseia no ego do artista. A ideia de ‘dar’ dinheiro a um vendedor para uma negociação que ainda não se concretizou parece menos prazerosa do que ver um clipe com milhares de visualizações ou um álbum bem produzido.
Mas a incerteza não é exclusividade das vendas. Quem garantiu o retorno do DVD ou das ações de marketing? A verdade é que, na maioria das vezes, o que se garante é o orgulho de ter um produto “perfeito”, um legado estético, sem necessariamente um plano claro de monetização.
A estratégia eficaz envolve alocar parte do orçamento para profissionais de vendas: influenciadores com bom relacionamento com contratantes, vendedores especializados em prefeituras, ou equipes dedicadas que entendem o mercado e as conexões necessárias.
O receio de pagar comissão por um show que ainda não aconteceu é grande. No entanto, oferecer uma parte justa do valor (por exemplo, 2.000 ou 3.000 de um show de 20.000), e talvez um adiantamento, é um investimento estratégico, não um gasto incerto. Esses profissionais dedicam tempo, gasolina, relacionamento e expertise para o seu show acontecer.
A Estratégia Que Gera Resultados Reais na Venda de Shows
Enquanto um artista não ‘estourar’ e tiver um reconhecimento automático que o faça vender sem esforço, a dependência de um bom vendedor e de uma estratégia comercial ativa é imensa. É ele quem vai falar mais alto em uma sala de reunião, abrir portas e construir relacionamentos duradouros com potenciais contratantes.
Gastar em networking, pagar camarote para donos de casas noturnas, construir pontes com prefeitos, secretários e sindicatos – tudo isso é parte da estratégia comercial que sustenta uma carreira antes da fama. Negligenciar essa área é esperar que o milagre aconteça.
A crença de que a venda de shows é apenas uma consequência natural do sucesso artístico é um mito perigoso. Ela só se concretiza automaticamente em uma fração mínima dos casos. Para a vasta maioria, é fruto de trabalho árduo, investimento direto e inteligência comercial.
Projetos de sucesso, inclusive para artistas que ainda não atingiram o estrelato massivo, frequentemente reservam uma parcela significativa do orçamento para ações comerciais estratégicas. Isso não apenas gera shows, mas abre portas para palcos melhores, públicos maiores e, consequentemente, uma agenda cheia que chama ainda mais shows.
Priorizar a venda de shows desde o início, destinando recursos para planejamento e execução comercial, é a grande virada de chave para qualquer artista. É a diferença entre um projeto que apenas sonha em ascender e um que realmente se concretiza no mercado.
Sem shows e sem visibilidade nos palcos certos, a melhor música pode cair no descrédito, tocando em espaços que não condizem com seu potencial. A profissionalização da venda é a ponte sólida para o palco que o seu talento merece e para a sustentabilidade da sua carreira musical.