A música dos Beatles é uma obra-prima que transcende gerações, com letras profundas e melodias que continuam a encantar e inspirar. Entre os talentosos compositores da banda, George Harrison se destacou não apenas por suas habilidades musicais, mas também por sua espiritualidade única. Em meio aos hits que dominavam as paradas, Harrison encontrou espaço. Ele expressou seu amor e sua conexão com algo maior, e uma das músicas que melhor exemplifica isso é “Long, Long, Long”.
Os Beatles se tornaram especialistas em criar canções de amor para o mercado pop. O Fab Four conquistou corações ao redor do mundo com melodias cativantes e letras que capturavam os romances adolescentes da época. No entanto, Harrison foi além do superficial, trazendo uma profundidade e matiz distintos em suas composições.
Desde sua primeira incursão na escrita de músicas, como “Don’t Bother Me”, Harrison demonstrou uma abordagem singular para romper com o formato tradicional das canções de amor. Ele explorou temas como separação em “I Need You” e o desapontamento em “If I Needed Someone”. Conforme sua carreira progredia, Harrison entrou em um período clássico. E foi nesse momento então que “Long, Long, Long” surgiu como uma abordagem diferente da fórmula tradicional do amor.
Paralelamente à sua evolução musical, George Harrison mergulhava cada vez mais na espiritualidade
Influenciado pelas crenças indianas que adquiriu, sua busca por uma conexão mais profunda com algo divino se tornou evidente. Embora “Long, Long, Long” possa ser interpretada como uma canção de amor tradicional, Harrison deixou claro em sua autobiografia “I Me Mine” que ele estava, na verdade, se comunicando com seu poder superior.
Ao analisarmos as letras com uma lente mais atenta, é possível perceber a qualidade litúrgica por trás delas. Harrison expressa ternura ao entoar a música, revelando que consegue vislumbrar seu poder superior e que finalmente encontrou paz interior. No entanto, ele sabia que impor suas crenças religiosas de forma contundente poderia alienar o público. Em uma entrevista, Harrison mencionou a necessidade de evitar referências diretas a Deus para evitar que sua mensagem fosse interpretada como uma pregação ou uma palestra.
A abordagem cuidadosa de Harrison ecoou entre os outros membros da banda. Na gravação de “Long, Long, Long”, Ringo Starr manteve sua bateria contida, permitindo que a performance vocal de Harrison brilhasse. O clímax sonoro ocorre no final, quando o som de uma garrafa de vinho sobre o órgão começa a ressoar nos alto-falantes. Esse final inesperado dá uma aura quase assustadora à faixa, deixando-a suspensa, como um ponto de interrogação metafórico.
Ao longo de sua carreira solo, Harrison continuou a incorporar sua espiritualidade em suas composições
Músicas como “My Sweet Lord” e “Give Me Love Give Me Peace On Earth” são exemplos claros desse aspecto. Mesmo em suas canções de amor heterossexuais, referências sutis à religião podem ser encontradas, como o canto de “Dharma” em seu sucesso dos anos 80, “This Is Love”.
Os Beatles sempre acreditaram que o amor era a resposta para tudo, mas Harrison compreendia que amar a Deus antes de qualquer outra pessoa era essencial. Sua jornada espiritual e a expressão disso em suas composições deixaram um legado duradouro, inspirando gerações de fãs e artistas.
A música dos Beatles é um tesouro atemporal, e a contribuição de George Harrison, tanto musicalmente quanto em sua expressão de amor e espiritualidade, continua a ressoar profundamente em nossos corações. “Long, Long, Long” é um lembrete poderoso de como a música pode transcender o trivial e nos conectar com algo maior. É uma prova viva da busca eterna do ser humano pela conexão espiritual e do impacto transformador que a música dos Beatles tem em nossas vidas.