O som da guitarra de Mark Knopfler nunca foi um grito. Era um sussurro com o peso de um mundo por trás. Sua técnica única de fingerpicking, melódica, precisa e descomplicada, parecia encarnar uma abordagem à música que valorizava o sentimento acima do exibicionismo, a contenção acima do excesso. Compreender A Guitarra de Mark Knopfler é mergulhar em uma filosofia musical profunda.
Mas muito antes de o homem por trás do Dire Straits ter induzido sua Shecter Strat vermelha às frases elegantes de ‘Brothers in Arms’ ou ao groove cintilante de ‘Sultans of Swing’, Mark Knopfler era apenas um adolescente olhando para uma capa de disco, tentando entender como aqueles sons eram feitos. “Eu cresci querendo estar em uma banda de blues”, disse ele. Para muitos de sua geração, nascidos em uma Grã-Bretanha que ainda se livrava da poeira da guerra e dos racionamentos, o rock and roll não era apenas escapismo; era uma revelação.
Nascido em Glasgow em 1949, Mark Knopfler mudou-se com a família para Newcastle aos sete anos. Sua educação no nordeste industrial da Inglaterra deu-lhe uma dureza e uma qualidade introspectiva que o serviriam bem anos depois. Foi seu tio Kingsley quem o apresentou à guitarra. Ele se lembra com carinho do momento em que encontrou o instrumento pela primeira vez. “Ele tinha este velho violão espanhol”, disse Knopfler. “Ele me mostrou alguns acordes e foi isso. Eu estava lá.”
Aos 15 anos, Knopfler adquiriu uma Huffner Super Solid V2, uma guitarra elétrica alemã de manuseio um tanto rígido que não ficava afinada por muito tempo, mas que abriu um mundo de possibilidades. Ele praticava incessantemente, fazendo fingerpicking junto aos seus discos favoritos. Sua atração não era pelos músicos mais histriônicos da época, mas sim por aqueles cujo toque carregava sutileza e bom gosto.
“Eu nunca fui fã de velocidade”, afirmou. “Gostava de guitarristas que podiam dizer mais com menos notas.” O rádio da cozinha trazia sons de todo o Atlântico: blues, soul, early rock and roll. Chuck Berry chamou sua atenção, mas foi o boom do blues britânico que o cativou verdadeiramente. A guitarra tornou-se sua confidente, um tutor particular e uma companheira constante.
Antes de fundar o Dire Straits em 1977 com seu irmão mais novo David, Mark Knopfler passou anos navegando pelos degraus mais baixos da indústria da música. Depois de se formar na Universidade de Leeds com um diploma em inglês e trabalhar brevemente como jornalista, ele retornou a Newcastle e tocou com várias bandas de pub, incluindo um grupo de country rock chamado Brewers Droop.
“Ele tinha um olhar jornalístico, mesmo na música”, disse um ex-colega de banda, “sempre observando, sempre editando o que estava fazendo até a essência.” Em 1973, mudou-se para Londres e aceitou um emprego como professor, complementando sua renda com trabalho de músico de sessão. Seu tempo como guitarrista “faz-tudo” foi formativo, tanto criativa quanto tecnicamente.
Ele se tornou um mestre em se adaptar a diferentes estilos e aprendeu a servir à canção em vez de roubar os holofotes. “Eu não estava procurando solos”, disse. “Eu estava tentando fazer parte de algo.” Essa mentalidade o serviria bem. A economia e a elegância de seu toque surgiram não de limitações, mas de disciplina. Anos acompanhando outros haviam lhe ensinado contenção e como fazer cada nota importar.
As Raízes do Som: Os Mestres de Mark Knopfler
Eric Clapton: A Chama Que Acendeu o Blues Britânico
O primeiro dos músicos que moldaram o estilo de Mark Knopfler foi Eric Clapton, mas não o Clapton suave e adulto de anos posteriores. Era o músico mais “desgrenhado” e faminto do Yardbirds e dos Blues Breakers de John Mayall. Esse disco, ‘Blues Breakers with Eric Clapton’, foi como um manual para Knopfler. “Toda nota tinha um significado”, afirmou. “Ensinava que um solo não precisava ser rápido para ser bom. Só precisava dizer algo.”
O fraseado de Clapton – nítido, vocal, infundido com Freddy King e Otis Rush – encontrou um eco direto na própria abordagem de Knopfler à guitarra solo. Em faixas como ‘Down to the Waterline’, pode-se ouvir a influência não nas notas tocadas, mas nas pausas entre elas. Assim como Clapton, Mark Knopfler entendeu que o espaço é tão importante quanto o som. Até seus timbres guardavam similaridade: claros, sem adornos, nunca encharcados de efeitos. “Você pluga e toca”, disse Knopfler. “Você não se esconde atrás de uma pedaleira. Foi o que aprendi com Clapton.”
Peter Green e Jeff Beck: Melancolia e Aventura Sônica
Se Clapton trouxe fogo à cena do blues britânico, Peter Green trouxe uma qualidade etérea. Seu tempo com o Fleetwood Mac original produziu algumas das guitarras mais emocionalmente ressonantes da história do rock: tristes, espaçosas e permeadas por um misticismo que parecia transcender a mera habilidade técnica. “Peter Green tinha uma coisa linda”, disse Mark Knopfler. “Ele tocava uma nota e a deixava pairar, e você era simplesmente atraído. Não era chamativo. Era mais profundo que isso.”
Em músicas como ‘Albatross’, o toque de Green é leve como uma pena, mas emocionalmente perfurante. Esse mesmo senso de fraseado lírico pode ser ouvido no trabalho mais introspectivo de Mark Knopfler, particularmente em ‘Brothers in Arms’, cujo solo delicado espelha o minimalismo melódico de Green. A integridade de Green, que se afastou quando não se sentia bem com a indústria, também ressoou profundamente com Knopfler. Há uma tristeza nas vozes de acordes de Knopfler, um toque de contenção em suas baladas. Assim como Green, ele entendeu que o poder emocional não era sobre volume, mas sobre vulnerabilidade.
Depois, havia Jeff Beck, sem dúvida o mais sonoramente aventureiro dos três. O toque de Beck, especialmente em sua carreira pós-Yardbirds, enveredou pelo jazz fusion, funk e até texturas eletrônicas. Ele dobrava as notas como ninguém, usando o braço da alavanca não para teatralidade, mas para nuances expressivas. “Jeff Beck, é uma tremenda perda”, disse Knopfler após seu falecimento. Embora Mark Knopfler não imitasse a exuberância de Beck, havia uma filosofia compartilhada em tratar a guitarra como uma voz.
O trabalho de slide de Knopfler, seus sutis swells de volume, seu uso ocasional de harmônicos, tudo trazia as impressões digitais de Beck. Basta ouvir o instrumental ‘Going Home’ de 1996 para ouvir essa linhagem. É uma canção sem palavras que fala volumes, sua melodia moldada pelo toque, pela nuance, pela recusa em exagerar. “Ele era como um mágico”, disse Knopfler sobre Beck. “Você não sabia de onde vinha o som. Às vezes, ele simplesmente estava lá, como se sempre tivesse existido.”
Em 2024, Mark Knopfler liderou uma nova versão de ‘Going Home’ como um projeto de arrecadação de fundos, reunindo mais de 60 guitarristas, incluindo Clapton, para gravar suas partes. A gravação final de Beck foi incluída postumamente, tornando a faixa um tributo silencioso aos próprios músicos que moldaram o caminho de Knopfler. “Todos nós, naquele disco, fomos moldados pelos mesmos fantasmas”, disse ele. “Era isso que estávamos tentando homenagear.”
Embora Knopfler sempre tenha sido modesto sobre sua própria estatura, seus contemporâneos e sucessores não o foram. Muitos o citaram como um mestre de timbre, bom gosto e timing, qualidades nem sempre fáceis de encontrar no cânone do rock. Eric Clapton o descreveu como um “Rolls-Royce de um guitarrista”. David Gilmour elogiou seus instintos melódicos: “Mark pode dizer mais em dois compassos do que a maioria em um solo inteiro. Há elegância em sua contenção.”
John Mayer chamou Mark Knopfler de “padrão ouro para como servir uma canção”. Até Bruce Springsteen reconheceu sua singularidade: “Ele é um daqueles caras, como Robbie Robertson, que toca como se estivesse contando uma história.” Talvez o que o distingue mais do que qualquer marca técnica seja a inteligência emocional que ele traz ao seu instrumento. “Você não está apenas tocando música”, disse ele. “Você está falando com alguém. Você está tentando se conectar.”
É uma qualidade que ele claramente aprendeu com seus primeiros ídolos. A alma de Clapton, a melancolia de Green, a expressividade de Beck, tudo combinado nos dedos de Mark Knopfler para criar um estilo ao mesmo tempo íntimo e majestoso. Ele não foi apenas influenciado por esses músicos; ele conversou com eles através do tempo, respondendo ao seu fraseado com o seu próprio. Mesmo hoje, em seu trabalho solo, essa conversa continua.
Pode-se ouvi-la na graça meditativa de ‘Romeo and Juliet’, na nostalgia crepuscular de ‘Sailing to Philadelphia’, na narrativa em tom sépia de ‘Postcards from Paraguay’. O adolescente que sonhava em fazer parte da banda de John Mayall encontrou uma verdade mais rica: a capacidade de escrever sua própria autobiografia musical, uma nota cuidadosamente escolhida de cada vez.
Quando perguntado qual permanece a lição mais importante desses heróis formadores, Mark Knopfler não hesitou. “Todos eles tinham uma voz. Era isso que eu queria. Não velocidade, não volume, apenas uma voz própria.”






