Quando os Beatles se separaram, John Lennon tinha uma preocupação em mente: Ringo Starr. “Estou feliz que todos estão indo bem, mas fico ainda mais feliz que Ringo está se saindo bem e encontrou seu espaço,” refletiu Lennon. Ele acreditava que Paul McCartney continuaria próspero e que George Harrison havia desenvolvido suas habilidades como compositor a um nível sustentável. Contudo, Lennon temia que Ringo pudesse ter dificuldades.
“Não quero que o Ringo acabe pobre, tendo que tocar em clubes noturnos no norte… porque a pior coisa do mundo para um ex-pop star na Inglaterra é acabar tocando em Bradford,” disse ele a Ray Connolly, enquanto estava em sua luxuosa casa em Tittenhurst Park. Apesar do tom desdenhoso em relação às cidades provincianas do norte, essa previsão pessimista nunca se concretizou para o baterista dos Beatles.
A Vida Pós-Beatles de Ringo Starr
Ringo, ao contrário das preocupações de Lennon, prosperou de maneira única. Todd Rundgren, músico e produtor, afirmou que Ringo Starr foi quem melhor se adaptou à vida após os Beatles. Em entrevista à Louder Sound, Rundgren comentou: “Ringo era o mais acessível de todos os Beatles. Conheci cada um deles, e o único que parecia ter superado os efeitos da separação foi ele. Ele fazia música por diversão, sem o peso de criar um grande legado musical.”
Essa abordagem descontraída de Ringo Starr, segundo Rundgren, refletia-se em seu estilo musical. Ele não carregava pretensões grandiosas e, por isso, sua transição para uma carreira solo foi natural. Ele teve sucessos nas paradas antes mesmo de Lennon, o que levanta a questão: essas músicas eram criações próprias ou ele contou com ajuda de amigos?
Ringo Escreveu Suas Próprias Músicas?
Nos Beatles, Ringo não era conhecido por compor muito. Durante sua passagem pela banda, ele foi o único autor de “Don’t Pass Me By” e “Octopus’s Garden”, além de contribuir em músicas como “What Goes On”, “Flying”, “Dig It” e “Maggie Mae”. Já na carreira solo, a história foi diferente.
Ringo frequentemente compunha músicas para seus próprios álbuns. No entanto, era comum ele recorrer a amigos famosos para finalizar suas ideias. Essa colaboração não era uma questão de necessidade técnica, mas sim um reflexo de como ele vivia e escrevia música.
“Normalmente, crio um primeiro verso, mas acho impossível ir além,” contou Ringo a Alan Clayson. “Não consigo dizer: ‘Agora vou escrever.’ Preciso estar perto de um violão ou piano, e a melodia simplesmente surge.” Ele descreveu o processo: gravava a ideia inicial, experimentava diferentes letras e melodias repetidamente, depois revisava o material e escolhia as melhores partes para construir a música.
O Estilo Descontraído de Compor
A falta de rigidez no processo criativo de Ringo muitas vezes o fazia interromper a escrita por distrações cotidianas, como cuidar dos filhos, assistir a um programa de comédia ou até mesmo almoçar. Quando chegava a esse ponto, ele recorria a uma estratégia familiar: entrar no estúdio e finalizar a música com ajuda de colaboradores.
Nos Beatles, ele tinha John, Paul e George para apoiá-lo. Na carreira solo, amigos como Marc Bolan, Vini Poncia e até mesmo antigos colegas de banda assumiram esse papel. Um exemplo clássico dessa dinâmica é “It Don’t Come Easy”, uma das músicas mais populares de Ringo, que contou com a ajuda de Harrison.
Músicas Solo Escritas por Ringo
Embora Ringo gostasse de colaborações, ele também escreveu algumas músicas inteiramente sozinho. Entre os exemplos estão:
- “Early 1970”, uma reflexão sobre sua relação com os ex-Beatles.
- “King of Broken Hearts”, uma balada que destaca sua sensibilidade musical.
Essas composições mostram que ele não apenas dependia de parceiros, mas também tinha talento e originalidade para criar por conta própria.
Colaborações: Um Estilo de Vida
O grande número de créditos compartilhados no catálogo solo de Ringo reflete mais seu amor pela colaboração do que qualquer deficiência técnica. Como Todd Rundgren apontou, Ringo era um homem sem pretensões. Ele sabia que, para uma música soar melhor, a contribuição de outro artista poderia ser essencial. Isso explica por que ele nunca hesitou em dividir os créditos com músicos como Bolan ou Harrison.
Um Beatle diferenciado
Ringo Starr pode não ser lembrado como um compositor prolífico no nível de Lennon ou McCartney, mas sua abordagem única à música o tornou um ícone. Ele escreveu, colaborou e se divertiu ao longo do caminho, mantendo o espírito leve que sempre definiu sua personalidade.
Em suas palavras, ele resumiu sua filosofia musical: “Eu só quero tocar e me divertir.” E foi exatamente isso que ele fez, provando que a música pode ser algo descomplicado e, ainda assim, impactante.