Nikka Costa: O que Aconteceu com a Estrela que Redefiniu Seu Próprio Legado
Nikka Costa: O que Aconteceu com a Estrela que Redefiniu Seu Próprio Legado

Nikka Costa: O que Aconteceu com a Estrela que Redefiniu Seu Próprio Legado

Ainda criança, com apenas nove anos de idade, ela soltava a voz em uma canção que falava sobre solidão, que se tornariam assustadoramente reais em sua vida adulta. Nikka Costa era um fenômeno internacional, e seus discos conquistavam sucesso e reconhecimento em diversos países da Europa e América Latina.

Longe dos holofotes, porém, havia uma menina tentando lidar com uma infância que não escolheu. A perda do pai, Don Costa — seu mentor e produtor —, foi abafada por compromissos. Sem tempo para o luto, sem espaço para parar, Nikka Costa foi forçada a sorrir, promovendo um álbum gravado dias antes da tragédia.

E então, ela desapareceu. Sumiu dos palcos. Anos depois, ela retornaria, mas desta vez, no controle total de sua carreira. Essa é a profunda e inspiradora história de Nikka Costa, que talvez seja muito mais complexa do que se possa imaginar à primeira vista.

Um Berço Musical e o Peso da Fama Precoce

Antes mesmo de compreender o que era a fama, Nikka Costa já fazia parte dela. Filha do maestro e produtor Don Costa, ela cresceu cercada por alguns dos maiores nomes da música americana. Frank Sinatra, amigo próximo de seu pai, tornou-se seu padrinho. Quincy Jones e Sammy Davis Jr. eram presenças constantes em sua casa.

A música não era um plano de carreira; era o ambiente em que ela cresceu. Nascida em 1972, em Tóquio, durante um festival de música, Nikka improvisava canções para amigos da família desde muito pequena. Aos 5 anos, ela já se apresentava em palco com o cantor havaiano Don Ho. Aos 7, encantou uma plateia em Milão cantando com a orquestra de seu pai.

Nikka Costa: O que Aconteceu com a Estrela que Redefiniu Seu Próprio Legado

Em 1981, lançou seu primeiro álbum, que incluía o sucesso “(Out Here) On My Own”, originalmente interpretado por Irene Cara no filme “Fama”. Meses depois, apareceu no Festival de Viña del Mar, no Chile, ao lado de Don Costa, que integrava o júri e se apresentava com a filha. Nesse mesmo evento, a banda The Police, então uma sensação internacional em ascensão, era a atração principal.

Gravando canções populares com arranjos orquestrais feitos especialmente para sua jovem voz, Nikka Costa ganhou reconhecimento mundial. Em 1983, lançou o álbum “Fairy Tales”, mas enquanto sua carreira decolava, sua vida pessoal foi abruptamente abalada: Nikka perdeu o pai devido a uma insuficiência cardíaca.

O Luto Silenciado e a Busca por Autonomia

O impacto da perda de seu pai foi devastador. Apesar do luto, ela foi enviada em turnê para promover o recém-lançado álbum. Anos depois, Nikka Costa revelou que a experiência foi desconfortável e que a mídia explorou pesadamente a morte de seu pai. “Eu não queria cantar por um tempo. Eu tinha apenas 10 anos. Não estava pensando em carreira”, lembrou.

A morte de Don Costa marcou o fim abrupto de uma breve, mas intensa, parceria familiar. Ele havia sido o responsável por lançar e guiar a filha no estúdio e no palco. Com o passar dos anos, Nikka compreendeu mais profundamente o papel que ele havia desempenhado não apenas em sua vida, mas na música americana como um todo.

“Eu sabia que ele trabalhava com pessoas importantes, mas só percebi o quão talentoso ele era mais tarde, quando outros começaram a me contar histórias sobre quem ele havia sido”, recordou. Na adolescência, Nikka voltou a gravar, mas sem liberdade artística. Aos 14 anos, lançou um álbum na Europa apenas para cumprir obrigações contratuais.

As músicas, que ela descreveu como “pop descartável”, não a representavam. A gravadora tentava moldá-la em uma estrela pop genérica. Sem espaço criativo, ela optou por se afastar mais uma vez. Apesar do sucesso inicial e dos impressionantes números de vendas, Nikka Costa experimentou o fardo de uma carreira que começou sem autonomia.

Ela foi celebrada mundialmente antes mesmo de ter voz sobre quem era ou o que queria cantar. Somente depois de terminar o ensino médio ela começou a buscar sua verdadeira identidade artística. Inspirada por ícones do soul e funk, como Aretha Franklin e Stevie Wonder, ela passou horas ouvindo fitas, tentando decifrar harmonias e entender estruturas de canções.

Foi durante essa jornada de autodescoberta que ela tomou uma decisão: permaneceria na música, mas em seus próprios termos. No início dos anos 90, mudou-se para a Austrália. Longe das pressões da indústria e da imagem construída para ela na infância, Nikka começou a escrever canções, formou suas primeiras bandas e encontrou a liberdade para experimentar. Era o início de um novo capítulo, onde, pela primeira vez, ela teria controle total sobre sua própria história.

A Reinvenção e o Legado Contínuo de Nikka Costa

Na Austrália, Nikka Costa começou a escrever suas próprias músicas, aprendeu a tocar guitarra e teclado, formou pequenas bandas e testou suas ideias em bares. Foi durante essa fase mais madura que sua identidade musical começou a tomar forma. Ela misturou elementos de funk, soul, rock e R&B, e começou a explorar sua voz com mais liberdade.

“Lembro do dia em que percebi que minha voz podia mudar. Podia ser rouca, suave ou poderosa… Parecia que eu havia descoberto uma parte totalmente nova de mim mesma”, disse em uma entrevista. Em 1996, lançou o álbum “Butterfly Rocket”. Foi o primeiro disco que Nikka realmente sentiu como sendo seu — um projeto original que refletia quem ela era. O álbum lhe rendeu uma indicação de Melhor Artista Revelação no Australian Recording Industry Awards.

Para ela, aqueles anos na Austrália foram como uma verdadeira faculdade. O público era exigente e acostumado a shows ao vivo, o que a impulsionou a crescer como artista de palco. Alguns anos depois, ela e o produtor Justin Stanley — que mais tarde se tornaria seu marido — voltaram para os Estados Unidos.

Foi quando a carreira de Nikka tomou um novo rumo. O produtor Dominique Trenier, impressionado por uma de suas performances ao vivo, a apresentou ao DJ Mark Ronson. Os três começaram a trabalhar juntos no álbum que mudaria tudo: “Everybody Got Their Something”, lançado em 2001. Antes mesmo de seu lançamento, sua canção “Like a Feather” já tocava em um comercial da Tommy Hilfiger, gerando burburinho e expectativa.

O álbum apresentou ao público americano uma Nikka reinventada: ousada, energética e com um som que combinava soul, rock e batidas modernas. A faixa “Push & Pull” foi incluída na trilha sonora do filme “Profissão de Risco”, e alguns anos depois ela saiu em turnê com Lenny Kravitz. Seguiram-se mais dois álbuns: “Can’tneverdidnothin’” em 2005 e “Pebble to a Pearl” em 2008. O primeiro apresentava canções mais pessoais, incluindo “Fatherless Child”, uma homenagem emocionante ao seu pai.

Por volta dessa época, Nikka casou-se com Justin Stanley, e em 2006, sua primeira filha, Sugar, nasceu. A maternidade trouxe uma mudança tranquila, mas significativa. Aos poucos, ela começou a desacelerar sua carreira — não por falta de inspiração, mas por escolha. Entre 2010 e 2017, Nikka Costa lançou apenas dois álbuns. Em vez de sair em turnê, ela optou por ficar em casa.

Tendo passado a infância em aviões, hotéis e estúdios, ela fez questão de dar a seus filhos um tipo diferente de vida. Uma vida com mais tempo, mais presença e mais rotina. Sua decisão de se afastar não foi um sacrifício, mas um gesto consciente — quase uma forma de quebrar o ciclo. Ao assumir esse novo papel, ela se reconectou não apenas com a maternidade, mas também com sua própria infância — com tudo o que teve e, mais importante, com tudo o que lhe faltou.

Em 2017, ela retornou com o projeto “Nikka & Strings, Underneath and In Between”, que apresentou um lado mais íntimo e clássico da cantora. O álbum trazia versões mais suaves de canções de Prince — Nikka era amiga e protegida dele. Em 2024, ela lançou “Dirty Disco”, um álbum com sonoridade dançante, inspirada no funk dos anos 70, mas entregue com um toque moderno.

Para ela, agora aos 53 anos, esse retorno significa mais do que apenas um novo disco — é um reencontro com a alegria de cantar, com o palco e com seu público. Esta é a história de Nikka Costa — uma artista que começou jovem, enfrentou a perda do pai, se afastou da música durante o luto, reinventou-se e voltou em seus próprios termos, em seu próprio tempo. Ela provou que o talento pode impressionar, mas é a coragem de recomeçar que realmente constrói uma carreira duradoura.

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