Yoko Ono, uma figura controversa na história dos Beatles, esteve no centro de diversas tensões durante os últimos anos da banda. Sua presença constante nos estúdios, especialmente ao lado de John Lennon, gerou desconfortos e interpretações variadas entre os integrantes. Uma dessas situações ocorreu durante as gravações de Let It Be, quando Lennon acreditou que a música “Get Back“ havia sido escrita por Paul McCartney como uma crítica indireta a Yoko, marcando mais um capítulo nas complexas dinâmicas do grupo.
Os Beatles são frequentemente lembrados como uma grande família artística, unida por sua genialidade criativa. No entanto, à medida que o tempo passou, tensões e complexidades dentro do grupo começaram a emergir, distanciando-os da harmonia que marcou o início de suas carreiras.
As Tensas Sessões de Gravação de Let It Be
Em 1969, durante as gravações do álbum Let It Be, as tensões entre John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr chegaram ao limite. A pressão da fama, o uso de drogas e o ego inflado de cada integrante criaram um ambiente difícil. Como resultado, o grupo começou a se afastar daquilo que os unia: a música.
Embora Let It Be tenha sido um período de conflitos, também foi um momento de grande produtividade. Apesar das dificuldades, o álbum trouxe músicas de alta qualidade, mesmo sob a produção controversa de Phil Spector. Entre as faixas, “Get Back” tornou-se um símbolo dessa dualidade: uma banda ainda brilhante, mas desmoronando sob pressão.
A Origem de Get Back
Paul McCartney idealizou “Get Back” como uma peça política e satírica. A canção começou como uma crítica à forma como a mídia e os políticos tratavam imigrantes, especialmente paquistaneses. Segundo McCartney, a intenção era abordar a superlotação vivida por essas comunidades de forma antirracista.
Em entrevista à Rolling Stone em 1986, McCartney explicou:
“Quando estávamos fazendo Let It Be, havia alguns versos em Get Back que eram antirracistas. Muitas notícias na época falavam de paquistaneses vivendo em condições difíceis. Minha intenção era criticar essas situações, não as pessoas.”
McCartney também destacou que os Beatles nunca foram racistas, sendo grandes admiradores da Motown e de artistas negros. A intenção de McCartney, segundo ele, era pura, mas nem todos no grupo interpretaram assim.
John Lennon e a Suposta Crítica a Yoko Ono
Para John Lennon, Get Back tinha um significado diferente. Ele acreditava que McCartney usava a música para atacar indiretamente Yoko Ono, que, na época, era presença constante no estúdio. Ono já era vista como uma intrusa por alguns engenheiros e produtores, e Lennon percebeu na canção um ataque direto a ela.
Lennon afirmou à Playboy em 1980:
“Eu acho que há algo sobre Yoko na letra, especialmente em volte para onde você pertenceu. Toda vez que Paul cantava essa parte, ele olhava para Yoko. Talvez seja paranóia minha, mas parecia pessoal.”
Apesar disso, McCartney sempre negou qualquer ligação entre a música e Yoko Ono. Ele manteve sua posição de que a canção era uma sátira social, mas os conflitos internos entre os Beatles tornaram as relações entre os membros cada vez mais insustentáveis.
Os Beatles em Ruptura
Durante as gravações de Let It Be, os egos inflados, as agendas apertadas e a pressão da indústria tornaram quase impossível o trabalho em grupo. Yoko Ono, como presença constante ao lado de Lennon, pode ter representado um obstáculo para McCartney, mas não há provas definitivas de que ele a via como um problema para a banda.
Embora as verdadeiras intenções de McCartney permaneçam abertas à interpretação, uma coisa é certa: as tensões internas criaram uma das canções mais emblemáticas dos Beatles.
O Legado de Get Back
Get Back não é apenas uma obra-prima do rock and roll, mas também um reflexo das tensões que marcaram os últimos anos dos Beatles. Apesar das disputas e desentendimentos, a música permanece como um exemplo da genialidade artística que o grupo conseguiu manter, mesmo em tempos difíceis.
A história por trás de Get Back nos lembra que grandes obras muitas vezes nascem do caos e da complexidade das relações humanas.