John Lennon: A Luta Pessoal Contra o Álcool e o Legado do Rock
John Lennon: A Luta Pessoal Contra o Álcool e o Legado do Rock

John Lennon: A Luta Pessoal Contra o Álcool e o Legado do Rock

Em 1966, a notícia de que os Beatles talvez estivessem fumando maconha causou um choque generalizado. Quatro jovens, vistos como símbolos da pureza e do futuro de nossos filhos, se entregando a algo tão “abominável”. Como, afinal, músicos dos anos 60 poderiam fazer tal coisa?

O escândalo foi um sintoma do limbo em que aquela geração se encontrava. Um desejo desesperado de se libertar das amarras da geração anterior e avançar para um pensamento mais progressista. Os Beatles quebraram todos os padrões, criando uma música que alterava a mente com a mesma facilidade que um cigarro de maconha. Eles pavimentaram o caminho para uma nova era de liberdade e experimentação.

Contudo, a década de 1970 trouxe uma nova realidade. Com o fim dos Beatles, cada membro precisou navegar por suas vidas adultas de forma independente, pela primeira vez desde sua ascensão meteórica. Foi nesse período que a escuridão do abuso de substâncias começou a se manifestar para alguns, especialmente para a mente criativa por trás da banda, John Lennon.

A Queda de um Ícone: John Lennon e o Abuso de Álcool

Como um gênio torturado, John Lennon estava constantemente trilhando a linha tênue entre a expressão artística, a insegurança pessoal e a inovação musical. Era um lugar intensamente solitário para se estar, e essa solidão era agravada pela miríade de “pecados” que a vida de uma estrela do rock, conquistadora de mundos, podia proporcionar. Em vez de enfrentar essas questões de forma significativa, John Lennon optou por se esconder no que era, talvez, a droga mais acessível de todas: o álcool.

Ele mesmo admitiu a profundidade de seu problema. “Eu estava tentando esconder o que sentia em uma garrafa, e isso não estava me fazendo nenhum bem”, explicou Lennon em uma entrevista reveladora. “Esqueça a imagem; fisicamente e mentalmente, aquilo estava me matando. E eu só sabia sair desse tipo de situação bebendo. Eu realmente tentei me afogar na garrafa e isso exigiu muito, porque eu não pareço tão forte fisicamente, mas parece que exige uma quantidade incrível para me derrubar.”

John Lennon: A Luta Pessoal Contra o Álcool e o Legado do Rock

Durante esse período conturbado, conhecido como seu “Lost Weekend”, John Lennon se cercou de alguns dos maiores bebedores da indústria musical. Nomes como Harry Nilsson e Bobby Keyes eram presenças constantes. “E eu estava com os maiores bebedores da indústria, que são Harry Nilsson e Bobby Keyes e todos eles, e não conseguíamos nos recompor”, desabafou Lennon. “Acho que Harry ainda deve estar tentando, coitado. ‘Deus o abençoe, Harry, onde quer que você esteja’.”

Esses anos foram marcados por excessos e, por vezes, por uma irresponsabilidade que contrastava com a imagem de ícone pacifista que ele havia cultivado. A pressão de ser John Lennon sem os Beatles era imensa, e o álcool servia como um anestésico temporário para a dor e a incerteza que o assaltavam.

Amizade e Criatividade na Tormenta

Apesar dos momentos sombrios, a relação de Lennon com Harry Nilsson, em particular, revelou aspectos complexos. Mesmo que John Lennon descreva uma espiral descendente, a amizade também mostrou sinais de saúde e criatividade mútua. Quando não estavam bebendo e causando problemas, eles se alimentavam da criatividade um do outro. Lennon, por exemplo, atuou como produtor de Nilsson em seu 10º álbum, o aclamado Pussy Cats.

O processo de gravação de Pussy Cats, apesar de lendário por seus excessos e incidentes (como Lennon perdendo a voz), também produziu um trabalho musical que resistiu ao teste do tempo. Essa colaboração demonstra que, mesmo em meio à turbulência pessoal, o gênio criativo de Lennon e Nilsson podia florescer, transformando a deboche em arte. No entanto, é inegável que a relação deles foi intensamente alimentada pelo amor pela libertinagem.

Felizmente, à medida que a década de 1970 se aproximava do fim, John Lennon começou a se reerguer. Ele reconheceu a necessidade de mudar, de se limpar. O processo não foi fácil, e a decisão de abandonar o vício foi um dos maiores desafios de sua vida pós-Beatles, exigindo uma força de vontade que ele nem sempre sabia que possuía.

O Despertar: Uma Tragédia Como Alerta

Curiosamente, não foi Nilsson quem inspirou a virada de Lennon. Não, foi a trágica queda de um de seus grandes pares, alguém que não conseguiu escapar das garras do alcoolismo. A percepção da mortalidade, observando amigos e colegas sucumbirem, foi o catalisador para a mudança de John.

Lennon explicou o momento crucial: “Eu tinha que me afastar disso também porque alguém ia morrer, ou Keith Moon morreu. Éramos Keith, Harry, eu e Deus sabe quem mais por perto. E era tipo, ‘Quem vai morrer primeiro?’ Infelizmente, Keith foi o primeiro. Mas eu saí.” A morte de Keith Moon, o lendário baterista do The Who, em 1978, devido a uma overdose acidental de uma droga para combater o alcoolismo, serviu como um alerta sombrio e inegável.

Ver um amigo e colega de profissão, com quem ele havia compartilhado tantos momentos de excesso, sucumbir à mesma doença, foi um chamado à realidade para John Lennon. Essa tragédia pessoal ressoou profundamente, impulsionando-o a buscar uma sobriedade que parecia inatingível. Foi um lembrete brutal de que a vida de estrela do rock, com todas as suas indulgências, tinha um preço muito alto.

É uma história que apenas acentua a tristeza do que aconteceu quando a década de 1970 se encerrou. Um John Lennon recuperado, limpo e renovado, planejava retornar a um trabalho musical sério, ansioso por novas composições e gravações. Ele estava pronto para um novo capítulo, focado na família e na música, antes de sua vida ser tragicamenta interrompida em 1980. Sua jornada de superação, embora abruptamente finalizada, permanece como um testemunho da complexidade humana por trás da lenda do rock.

A vida de John Lennon é um mosaico de genialidade, conflito e busca por redenção. Sua luta contra o alcoolismo é um lembrete potente de que, por trás do glamour do palco e da reverência dos fãs, existem indivíduos com suas próprias batalhas silenciosas. O legado de Lennon não se restringe apenas à sua música revolucionária, mas também à sua honestidade brutal sobre suas falhas e sua corajosa jornada em busca da sobriedade, um legado que continua a inspirar e a ressoar.

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