No universo artístico, especialmente na música, é comum que o foco principal recaia sobre o talento puro e a paixão pela arte. Contudo, para muitos profissionais, a realidade do mercado exige muito mais do que apenas habilidade técnica. Desenvolver uma visão estratégica na música é o diferencial que separa artistas que prosperam daqueles que, infelizmente, acabam desistindo de suas carreiras.
Essa perspectiva se assemelha à de grandes empreendedores, que, independentemente do campo, demonstram uma capacidade impressionante de enxergar o todo, de planejar e de executar com precisão. É a mesma inteligência que impulsiona o sucesso em diversos setores, seja na fabricação de um produto como um refrigerante ou na criação de uma linha de roupas. A música, nesse contexto, não é diferente: ela é um produto, e para que ele chegue ao público, uma estratégia bem definida é indispensável.
A Música como Negócio: Lições de Empreendedorismo
Quando pensamos em produtos como bebidas ou calças jeans, entendemos facilmente a necessidade de uma fábrica, comunicação eficaz e canais de distribuição para que cheguem às prateleiras ou vitrines. No mercado musical, a lógica é idêntica. Como criar a “música-produto” que se destaque? Como garantir que ela chegue ao público certo, seja por meio de plataformas digitais, rádios ou shows?
Isso envolve desde a produção musical até a promoção, incluindo a colaboração com influenciadores ou a participação em eventos estratégicos. Toda essa estrutura demanda uma mentalidade de empreendedorismo musical, onde o artista ou gestor enxerga além da nota e da melodia, focando na viabilidade e no alcance de sua obra.
O Dilema da Educação Musical: Teoria vs. Prática
Muitos músicos, ao concluírem sua formação acadêmica, sentem que foram preparados para a excelência técnica e teórica, mas pouco para a sobrevivência profissional. A grade curricular de cursos como composição e regência frequentemente mergulha em devaneios estéticos, história da arte, harmonia e contraponto.
Embora esses conhecimentos sejam fundamentais para a profundidade artística, a ausência de um ensino voltado para o mercado da música, para o pensamento estratégico e para a gestão de carreira, cria uma lacuna significativa. Isso explica por que tantos talentos acabam padecendo ou desistindo da profissão, não por falta de arte, mas por ausência de um plano de ação para inserção e manutenção no competitivo universo musical.
Há relatos de desafios até mesmo na validação de obras. Composições populares ou com apelo de mercado, mesmo que reconhecidas internacionalmente, muitas vezes não são aceitas como “eruditas” para fins de diplomação. Essa dicotomia entre o que é valorizado academicamente e o que é relevante para o mercado é um sintoma da necessidade de um ajuste na educação musical.
Se o propósito de um diploma é preparar o profissional para o mercado, então a própria avaliação deve refletir essa realidade, validando a capacidade do músico de atuar e prosperar em diferentes contextos, e não apenas em nichos pré-determinados.
Perspectivas Diversas e a Sobrevivência do Músico
A experiência mostra que um dos maiores aprendizados para qualquer músico é a convivência com profissionais de diferentes realidades e gêneros. Conhecer e interagir com instrumentistas de heavy metal, músicos eruditos, sertanejos, artistas de MPB, jazzistas, produtores de estúdio ou aqueles que tocam em orquestras e eventos, oferece uma riqueza de perspectivas inestimável.
Essas trocas de experiências e a compreensão de como cada um atua em seu nicho são cruciais para o desenvolvimento de uma visão estratégica na música mais ampla e adaptável. O que funciona para um, pode inspirar o outro a encontrar novas abordagens e oportunidades.
Em um país tão rico musicalmente como o Brasil, é urgente que a educação musical simule mais essas realidades e prepare os futuros profissionais não apenas para a arte, mas para a gestão de suas carreiras. A capacidade de navegar pelas complexidades do music business é tão vital quanto o domínio do instrumento ou da composição. É essa inteligência, essa visão estratégica, que impulsiona o desenvolvimento e a perenidade de carreiras de sucesso no cenário musical atual.







