Abordar certos temas exige um cuidado especial, dada a sua complexidade e a delicadeza envolvida em diferentes pontos de vista. É por isso que refletir sobre a carreira musical tem sido um desafio, exigindo tempo para encontrar a melhor forma de dialogar com os leitores sobre um assunto tão relevante. É crucial oferecer um panorama claro, mesmo que nem todos concordem com a perspectiva apresentada. Este tópico é importante porque pode aliviar um peso das costas de muitas pessoas, oferecendo uma nova lente para enxergar o caminho da música.
Muitos artistas, ou aspirantes a artistas, carregam um fardo pesado, vendo a música não como uma escolha, mas como uma obrigação. Às vezes, uma crença limitante ou um comentário despretensioso os impulsiona para este mundo, onde o amor pela arte se mistura com a pressão de “dar certo”, “bombar” e “estourar” para encontrar a felicidade. Essa visão distorcida pode levar à busca por objetivos errados, desviando-os do verdadeiro propósito: aproveitar a jornada e a música como ela realmente deve ser desfrutada.
A Ilusão da Fama e a Verdade da Carreira Musical
É comum que as pessoas se apaixonem pela música atraídas pelo brilho do palco, a aclamação do público e a fantasia da fama. A imagem idealizada da vida do artista sugere tranquilidade, dinheiro farto, convívio com celebridades e uma existência dedicada apenas à arte. Contudo, essa visão é apenas a ponta do iceberg.
Ao contrário de outras profissões como medicina ou engenharia, onde o contexto da carreira musical é mais evidente desde o início, a música esconde grande parte de seus bastidores. Ninguém escolhe ser médico se tem aversão a sangue, nem engenheiro se detesta cálculos. Nessas áreas, a escolha é pautada por uma compatibilidade clara com o cotidiano da profissão. Na música, as pessoas veem o espetáculo, o clipe, o show, mas raramente o trabalho árduo e invisível que precede esses momentos. É esse “background” que realmente define se a carreira musical é para você.
Dois questionamentos fundamentais para sua jornada na música
Para aqueles que desejam fazer da música sua profissão e fonte de sustento, duas perguntas essenciais precisam ser feitas, independentemente do estágio da carreira musical. Elas ajudarão a entender se a música deve ser um caminho de vida ou um prazeroso hobby.
1. Você está na música pelos motivos certos?
Imagine um médico que escolhe sua profissão pelo desejo de salvar vidas, mesmo sabendo que terá que lidar com fraturas expostas, mortes e dores. Esse desejo genuíno é a força que o move a superar qualquer adversidade. Na música, o mesmo princípio se aplica. A música, por si só, deve ser o motivo suficiente. O que você sente ao cantar, compor ou se conectar com o público, mesmo que seja apenas uma pessoa, precisa ser o bastante.
Não se trata de limitar seus sonhos de sucesso ou de não lutar por reconhecimento. Pelo contrário, sonhar grande é fundamental. No entanto, se, por algum motivo, seus objetivos mais ambiciosos não forem alcançados, a música ainda precisa trazer satisfação. Nem todo arquiteto é Oscar Niemeyer, nem toda cafeteria é Starbucks. A felicidade reside na paixão pelo ofício, na missão que se abraça. Se você só ama a música por seus benefícios e pelo sucesso que ela pode trazer, talvez esteja se apaixonando pela ilusão, e não pela arte em si. Amar a música independentemente de como ela se manifesta é a base para uma carreira musical duradoura e feliz.
2. Você está disposto a pagar o preço?
O médico, movido por sua vocação, está disposto a estudar por anos, fazer residência, virar noites, sacrificar finais de semana e lidar com situações de estresse extremo para exercer sua profissão. Ele paga o preço. E você, está disposto a pagar o preço da música?
Isso significa abrir mão do seu ego, aceitar críticas à sua arte, passar por períodos de baixa remuneração enquanto investe na carreira sem garantia de retorno. Estar disposto a frequentar ambientes desconfortáveis, conectar-se com pessoas de energias diferentes ou até cantar músicas que não o representam totalmente, mas que são estrategicamente importantes. Implica em investir grande parte do seu dinheiro em divulgação sem certeza de resultados, dormir pouco, abrir mão de finais de semana e enfrentar a pressão de contratos e prazos. Se você está disposto a abrir mão do seu conforto e pagar esse preço, independentemente do seu talento nato, a carreira musical pode ser para você.
Se, por outro lado, essas exigências não se encaixam na sua vida, não há problema algum. Talvez a música deva fazer parte da sua vida como um hobby, uma paixão que traz alegria sem as pressões de uma carreira. É uma questão de compatibilidade, não de merecimento ou capacidade. Fracassado não é quem não atinge a fama, mas quem é bem pago para ser infeliz, ou quem troca seu legado por dinheiro. A verdadeira medida do sucesso é a felicidade e a realização que você encontra ao viver o mais próximo possível de sua missão. Reflita sobre isso e descubra o que a música significa para você.