A morte de Bon Scott em fevereiro de 1980 mergulhou o AC/DC em um dilema existencial. Como uma banda de rock bem-sucedida, eles enfrentaram a inevitável questão: encontrar um vocalista semelhante, correndo o risco de viver na sombra do antecessor, ou alguém completamente diferente, arriscando alienar os fãs mais leais?
A banda, conhecida por sua resiliência, chegou a uma lista de quatro potenciais substitutos. Nomes como Steve Wright, Gary Holton (do Heavy Metal Kids, que depois encontraria fama na TV antes de sua morte precoce) e Alan Frier (da banda australiana Heaven) foram considerados. Cada um apresentava suas próprias questões, seja por proximidade excessiva com os produtores da banda ou por uma personalidade grande demais, o que remetia inevitavelmente a Bon Scott.
A Escolha Inesperada e o Milagre de Back in Black
A solução ideal surgiu com Brian Johnson. Vindo de uma banda chamada Geordie, que não havia alcançado grande sucesso, Johnson era um nome relativamente desconhecido. Curiosamente, o próprio Bon Scott o havia recomendado anos antes, após vê-lo em um show e descrevê-lo como a “melhor imitação de Little Richard” que já vira (só depois descobrindo que Brian sofria de apendicite!).
A velocidade da decisão foi assustadora: Bon Scott faleceu em 19 de fevereiro de 1980, e Brian Johnson foi anunciado oficialmente em 8 de abril, menos de sete semanas depois. Essa rapidez levantou questões, mas a banda tinha o apoio da família de Scott, que incentivou a continuação. Era o momento certo para o AC/DC, que começava a ganhar força fora da Austrália e precisava manter o ímpeto.
O resultado foi Back in Black. Lançado pouco depois, este álbum não se tornou apenas o maior da carreira do AC/DC, mas um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos em qualquer gênero musical. Johnson, com sua voz rouca e poderosa, encaixou-se perfeitamente, sendo parte da banda e respeitando a visão de Angus e Malcolm Young. Ele conseguiu, de forma quase milagrosa, preencher os sapatos de Bon Scott, um feito raro na história do rock.
O disco foi um triunfo comercial, impulsionando o AC/DC para o cenário global, especialmente no Reino Unido e nos Estados Unidos. O sucesso de Back in Black foi tão grande que muitos o consideram o ponto em que a banda “saiu da história e entrou para a lenda”, transformando-se em um fenômeno cultural que transcendeu o nicho do rock.
Controvérsias e o Legado Perpétuo do Álbum
Ainda hoje, há debates sobre a participação de Bon Scott nas letras de Back in Black. Embora os créditos sejam de Angus e Malcolm Young e Brian Johnson, muitos fãs sentem que certas letras (como as de “Have a Drink on Me”) carregam a marca do humor e da inteligência de Scott. A banda negou, mas é possível que as letras tenham sido escritas no estilo de Bon como uma homenagem, ou que ele tivesse tido alguma contribuição embrionária, que a banda optou por não creditar para dar a Brian um “começo limpo”.
A performance vocal de Brian Johnson em Back in Black é lendária. Sob a produção de Mutt Lange, ele entregou o melhor desempenho de sua carreira. Canções como “Hells Bells”, com sua abertura sombria e o som característico do sino, não só se tornaram clássicos, mas também adicionaram uma camada de tributo a Bon Scott, com letras que pareciam uma continuação de “Highway to Hell”. A gravação do sino de “Hells Bells” é uma história à parte, com pombos atrapalhando as sessões, levando à construção de um sino específico para o estúdio.
Back in Black é frequentemente descrito como um álbum “sem uma faixa fraca”, cada canção sendo uma obra-prima que funciona tanto individualmente quanto em conjunto. Hits como “You Shook Me All Night Long” e “Rock and Roll Ain’t Noise Pollution” se juntaram a clássicos atemporais como a faixa-título e “Hells Bells”, criando um repertório consistente e poderoso.
A Vida Pós-Back in Black e a Resiliência do AC/DC
O desafio de seguir um álbum tão monumental como Back in Black era imenso. “For Those About to Rock We Salute You”, lançado um ano depois, inevitavelmente sofreu comparações. Embora seja um álbum muito bom por si só, não conseguiu replicar o sucesso estrondoso de seu predecessor. O som, mais polido pela produção de Mutt Lange, afastou-se um pouco do blues rock sujo da era Bon Scott.
Mudanças na formação também marcaram a década de 80, com a saída de Phil Rudd e a entrada de Simon Wright e Chris Slade, alterando a “seção rítmica imbatível” do AC/DC. Álbuns como “Fly on the Wall” foram considerados “fracos” pela crítica e pelos fãs. No entanto, o filme “Maximum Overdrive” de Stephen King, grande fã da banda, trouxe o álbum “Who Made Who”, que reacendeu o interesse com sua faixa-título cativante e forte. “The Razors Edge”, produzido por Bruce Fairbairn, marcou um retorno ao topo das paradas, com um som mais vital e revigorado.
O retorno de Phil Rudd na década de 90 (no álbum “Ballbreaker”, produzido por Rick Rubin) trouxe de volta a inconfundível batida que muitos consideravam essencial para o som do AC/DC. Sua forma de tocar, sólida e sem firulas, é parte integral da máquina que a banda se tornou. “Stiff Upper Lip” (2000) mostrou uma banda novamente animada, reforçando a imagem do AC/DC como uma “banda de bons momentos” e um espetáculo ao vivo imperdível.
O AC/DC provou ser uma banda imbatível, capaz de superar tragédias e desafios de formação. Seu som direto e poderoso continua a encantar novas gerações, solidificando seu lugar como uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. O sucesso de Back in Black não foi apenas um pico, mas o ponto de virada que os catapultou para a eternidade.