Voz gravada
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A Sua Voz Gravada Pode Soar Melhor! Desvende os Segredos e Transforme Sua Experiência

Quantas vezes você, cantor ou cantora, já se ouviu em uma gravação e pensou: “Essa não sou eu”? Essa sensação de estranhamento com a própria voz gravada é mais comum do que se imagina, tanto para artistas quanto para produtores e engenheiros de mixagem. Se você já se pegou argumentando com seu engenheiro sobre o “peso” da sua voz, ou se como mixador, se viu sem saber como atender ao feedback de um cantor, este artigo é para você. A verdade é que a forma como cada um de nós percebe a própria voz em tempo real é muito diferente do que é captado por um microfone e reproduzido por fones ou caixas de som. Entender essa diferença é o primeiro passo para uma colaboração harmoniosa e resultados incríveis.

A Complexidade da Voz Gravada: Por Que Ela Soa Diferente?

Quando você canta ou fala, sua voz é percebida por você de três maneiras distintas. Primeiro, pela condução óssea e tecidual: você sente a vibração física da sua voz no peito, na cabeça, nos ossos. Essa sensação interna e vibratória é uma parte crucial da sua percepção vocal. Em segundo lugar, pela condução aérea: o som que sai da sua boca viaja pelo ar e chega aos seus ouvidos, complementando a percepção interna. E, por fim, o ambiente em que você canta interage com o som da sua voz, adicionando reverberaçoes e reflexões que influenciam a sonoridade geral. A combinação dessas três fontes de informação cria no seu cérebro uma “personalidade vocal” única, que só você escuta dessa forma tão particular.

O grande ponto de virada é que, ao gravar, a voz gravada passa por um processo que remove ou altera drasticamente essas percepções. Um microfone, como o que está na lapela, equaliza e “deforma” o som da sua voz. Sim, ele a modifica! Além disso, a cadeia de gravação e reprodução — que inclui pré-amplificadores, conversores, plugins de processamento e, finalmente, o fone ou a caixa de som — continua a “estragar” (sempre entre aspas, claro) sua voz, alterando sua equalização e dinâmica. O resultado? O que você ouve em uma gravação não é sua voz real, mas sim uma “fotografia bastante deturpada” dela. Essa é a chave para entender por que a voz gravada pode soar tão estranha a princípio.

O Papel Essencial da Mixagem: Transformando a Voz Gravada

Se a voz gravada é uma versão “deturpada” da sua voz original, qual é a solução? É aqui que o trabalho do engenheiro de mixagem se torna crucial. O objetivo não é apenas “limpar” a voz, mas usar uma série de processamentos técnicos e artísticos para aproximar a voz captada da percepção que o cantor tem de sua própria voz. Isso envolve equalização, compressão, adição de efeitos como reverb e delay, e muito mais. É um processo complexo que busca simular a ressonância e o corpo que o cantor sente ao vivo, muitas vezes resultando em uma sonoridade que não só se aproxima da percepção interna do artista, mas que pode até superá-la em termos de beleza e impacto.

Imagine, por exemplo, a voz crua de um cantor após a gravação. Ela pode soar fina, sem ressonância, sem a “alma” que o artista sabe que ela tem. Depois de um balde de processamentos de mixagem, a mesma voz ganha corpo, presença e uma identidade que o cantor reconhece e se orgulha. O ápice desse processo é quando a voz, depois de mixada em solo, é inserida no contexto da música inteira. É nesse momento que o cantor pode finalmente se identificar 100% com a sonoridade final, pois a voz se encaixa perfeitamente na paisagem sonora da canção. Esse é o poder da mixagem: transformar uma captação “neutra” em uma performance vocal envolvente e autêntica.

Voz gravada

Cantores, Façam Seu Dever de Casa: Dois Passos Para uma Voz Gravada de Sucesso

Se o engenheiro de mixagem tem sua parte, o cantor também tem seu dever de casa para garantir que a voz gravada atinja seu potencial máximo. Não se trata apenas de cantar bem, mas de entender o ambiente de gravação e as ferramentas. Seguir estas duas dicas pode mudar completamente o jogo:

Encontre o Fone Certo

Ter um fone de ouvido que você conhece profundamente é um divisor de águas. Não se trata de ter o fone mais caro, mas sim aquele em que você escuta todas as suas músicas de referência e que você usa consistentemente na hora de cantar e gravar. Leve-o para o estúdio, se for o caso. Ao conhecer como as músicas que você ama soam nesse fone, você desenvolve uma referência sonora interna. Quando sua própria voz for reproduzida por ele, você terá um parâmetro claro para dar feedbacks muito mais assertivos para o engenheiro de mixagem. A sugestão é usar fones abertos para gravação, se o metrônomo não vazar (o que é ideal para sentir mais o ambiente), mas o crucial é a familiaridade. Escute muita música no seu fone e sua voz nele – essa prática afinará sua percepção.

Descubra o Microfone Ideal

Assim como o fone, o microfone é uma extensão da sua voz. Cada microfone tem uma característica sonora única e interage de forma diferente com a sua voz. A dica de ouro é: vá a um grande estúdio em sua cidade, agende um período para testar sua voz em diversos microfones sugeridos para voz. Grave em cada um, peça para nivelarem o volume e, usando o fone que você já conhece, escute todos os exemplos. Leve essas gravações para casa e dedique tempo para entender qual microfone “casa” melhor com sua voz, qual realça suas qualidades e o faz sentir-se mais confortável. Essa busca não é sobre o microfone mais caro, mas sobre o que tem mais a ver com a sua sonoridade particular. Microfones condensadores, por exemplo, são mais sensíveis e captam mais o ambiente; se você grava em casa, talvez um microfone dinâmico seja mais indicado para evitar a acústica do cômodo.

O Diálogo Crucial Entre Artista e Engenheiro

A colaboração entre o cantor e o engenheiro de mixagem é a base para o sucesso da voz gravada. Um caso clássico é o do cantor que reclama que a voz está “magra” ou “sem grave”, quando na verdade, o problema está no dispositivo de reprodução, como um falante de celular que não tem resposta de grave. Se o engenheiro simplesmente aceitasse esse feedback sem questionar, adicionaria graves excessivos, arruinando uma mixagem que estava perfeita. É fundamental que ambos os lados façam perguntas: “Onde você está ouvindo?”, “Você está comparando com suas referências nesse mesmo aparelho?”.

Por outro lado, o engenheiro de mixagem deve estar aberto a escutar os “lamentos” do cantor. Não se trata de ego, mas de entender que a percepção interna do artista é uma peça-chave do quebra-cabeça. A sintonia fina da mixagem da voz exige que o engenheiro simule, através de processamentos, o corpo, a ressonância e a presença que o cantor sente ao cantar. Sem essa comunicação e sem a vontade de trabalhar juntos, o resultado pode cair no infame “meme de engenheiro de áudio versus músico”, onde a falta de entendimento mútuo impede que a música atinja seu potencial máximo. Trabalhar em conjunto significa chegar a uma sonoridade que satisfaça tanto a visão artística quanto a excelência técnica.

Em resumo, se você não gosta da sua voz gravada, as razões podem ser uma combinação de fatores: desde um desconhecimento seu sobre como a voz é captada e processada, um trabalho de mixagem que não atendeu às expectativas, ou, no pior dos cenários, a soma de ambos. A solução está na informação e na colaboração. Para os cantores, preparem-se e busquem entender o processo e as ferramentas. Para os engenheiros, ouçam com empatia e busquem traduzir a percepção do artista em resultados sonoros concretos. O sucesso da sua produção musical depende dessa parceria.

Aproveite para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema da voz e equipamentos de gravação. Você pode conferir um artigo excelente sobre como escolher o microfone ideal para gravar vocal. E para quem se interessa por mixagem e o processo de pós-produção, confira este post sobre como gravar vocal no home studio no blog Coisa de Músico.

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