Olá, amantes da música! Há canções que nos levam a tempos que parecem incrivelmente familiares, mesmo que não façam parte da nossa história pessoal. É como se estivessem tecidas em nosso DNA, evocando um anseio inexplicável por momentos e lugares nunca vividos. Uma dessas músicas é “Forever Young” da icônica banda alemã de synthpop Alphaville. Ela carrega uma mistura potente de nostalgia e reflexão.
Lançada em 1984, no auge da Guerra Fria, “Forever Young” nasceu de um período de incerteza global, com o constante medo de que uma única ação pudesse desencadear uma catástrofe nuclear. Vamos explorar a história por trás desta canção atemporal e da banda que a criou, mergulhando fundo na narrativa que definiu uma era.
A Origem de um Ícone Musical
Em 26 de maio de 1954, na Alemanha, nascia Hartwig Schierbaum, o jovem que se tornaria conhecido como Marian Gold. Embora o destino familiar o apontasse para o negócio de aquecimento, Hartwig resistiu, atraído desde cedo pela música e pelas artes. Essa diferença de interesses gerou tensões intensas em casa, resultado de expectativas conflitantes e de um jovem determinado a forjar seu próprio caminho. Após o ensino médio, o serviço militar chamou, mas Marian não conseguiu se conformar às rígidas normas, sentindo-se perseguido e deslocado. Ele acabou sendo dispensado desonrosamente, uma marca que carregaria, mas que também o libertou para buscar seus verdadeiros sonhos.
A vida de Marian, longe de ser fácil, talvez explique a profundidade de sua música. Após a dispensa militar nos anos 70, ele seguiu para Berlim Ocidental, uma cidade vibrante e, ao mesmo tempo, impiedosa. Sobreviver lá não era simples, e em dado momento, Marian se viu vivendo nas ruas, ocupando edifícios abandonados ao lado de outros jovens rebeldes. Era uma rebelião contra a geração mais velha, uma busca por liberdade e uma recusa aos benefícios do capitalismo, como ele mesmo descreveu.
Naquela época, Berlim Ocidental parecia um cenário pós-apocalíptico, isolada por um muro que simbolizava a divisão política e de realidades. Seu ambiente era singular: uma vida noturna incessante, com drogas, prostituição e uma busca implacável por prazer imediato permeando as ruas e clubes. Marian, como muitos outros jovens, foi atraído por esse “pântano”, uma mistura perturbadoramente cativante de fascínio e decadência que o consumia e, ao mesmo tempo, o inspirava.
Foi na cidade de Münster, longe do burburinho de Berlim, que Marian finalmente encontrou o caminho que procurava. Entre um coletivo de artistas chamado Nelson Community, ele conheceu Bernhard Lloyd e Frank Mertens. Juntos, eles inicialmente formaram a banda “Forever Young”, que mais tarde se tornaria Alphaville. O inusitado é que nenhum deles sabia tocar instrumentos! A existência do Alphaville só foi possível graças às baterias eletrônicas e sequenciadores que surgiram na época. Marian revelou que eram fãs de música, sonhavam em criar suas próprias melodias, e de repente, com as máquinas, isso se tornou realidade. Suas ideias ganhavam vida, e os instrumentos as tocavam. Eles também se recusavam a fazer grandes turnês com playback, o que não se encaixava em sua “ideologia hippie”. Com essa nova liberdade criativa, a banda adotou o nome Alphaville, inspirado em um filme francês de 1965.
A Ascensão Global com “Big in Japan” e “Forever Young”
Nos anos 80, os membros do Alphaville ainda levavam vidas comuns, cada um seguindo suas rotinas em empregos que nada tinham a ver com música. No entanto, em 1983, o destino sorriu para eles. A banda assinou seu primeiro contrato internacional com a WEA Records, e em apenas duas semanas de intenso trabalho, criaram duas faixas que definiriam suas carreiras: “Big in Japan” e “Forever Young”. Curiosamente, a gravadora não queria “Forever Young” como primeiro single, preferindo iniciar com “Big in Japan”, uma escolha que logo se mostraria acertada.
Segundo Marian, “Big in Japan” é sobre a cena de drogas em Berlim no final dos anos 70, contando a história fictícia de um casal de amantes que tenta escapar das drogas, mas nunca consegue, imaginando-se em uma espécie de terra dos sonhos onde estão sóbrios, mas nunca chegam lá — uma história bastante trágica. Enquanto “Big in Japan” subia nas paradas, Marian ainda trabalhava em uma cozinha de restaurante. Ele lembra claramente do momento em que a música começou a tocar incessantemente no rádio: “Meu chefe não aguentou mais e me expulsou: ‘Você não pode mais trabalhar aqui porque sua música está sempre no rádio, e eu não quero ver você aqui’.”
No final de fevereiro de 1984, “Big in Japan” já havia entrado nas paradas, alcançando a 72ª posição. Mas foi em abril daquele ano que tudo mudou: a música atingiu o topo das paradas na Alemanha, marcando o início de uma ascensão meteórica para o Alphaville. Pouco depois, seu segundo single, “Sounds Like A Melody”, chegou ao top 10 em grande parte da Europa. O álbum de estreia, intitulado “Forever Young”, foi lançado no outono de 1984 e rapidamente se tornou um sucesso estrondoso, ganhando status de Platina e Ouro na Alemanha, Suécia, Noruega e Suíça. A faixa-título se destacou como o terceiro single da banda, alcançando o top 5 e marcando a última aparição do Alphaville no top 100 das paradas do Reino Unido e a 65ª posição nos Estados Unidos.
O Verdadeiro Grito de “Forever Young”
Para compreender as letras de “Forever Young”, é essencial ter algum contexto histórico. Entre 1947 e 1991, o mundo viveu sob a sombra da Guerra Fria, um conflito sem batalhas diretas, mas preenchido por uma tensão constante que poderia explodir a qualquer momento. Armas nucleares pairavam como uma ameaça silenciosa sobre a humanidade, com o medo de que fossem usadas pelos principais atores deste drama global: os Estados Unidos e a União Soviética.
Foi precisamente essa atmosfera de incerteza e medo que inspirou Marian Gold, Bernhard Lloyd e Frank Mertens a compor “Forever Young”. A canção, frequentemente interpretada como um desejo de eterna juventude, na verdade carrega uma mensagem muito mais profunda e sombria: a de uma geração se preparando para o pior, pronta para morrer jovem na possibilidade sempre presente de aniquilação nuclear. Os versos “Let us die young or let us live forever. We don’t have the power, but we never say never.” e “Are you going to drop the bomb or not?” de Marian Gold, não são apenas sobre viver para sempre. São um grito silencioso, uma expressão da ansiedade e da esperança de uma época onde todos esperavam o melhor, mas se preparavam para o pior.
O clipe de “Forever Young”, filmado em um antigo castelo no sul da Inglaterra, que fora uma instituição psiquiátrica, reforça essa atmosfera de desespero e reflexão sobre o destino humano, onde a esperança de dançar e viver intensamente se une à amarga consciência de que tudo poderia terminar a qualquer instante.
O sucesso avassalador do álbum de estreia de Alphaville trouxe consigo uma pressão imensa. Essa pressão levou Frank Mertens a deixar a banda no final de 1984, sendo substituído por Ricky Echolette. O Alphaville continuou a evoluir, lançando “Afternoons in Utopia” em 1986, com um som mais rico e ambicioso, e “The Breathtaking Blue” em 1989, um experimento sônico que adicionou uma variedade de instrumentos aos sintetizadores já familiares.
As décadas seguintes viram novas mudanças na formação da banda, com Ricky Echolette saindo em 1997 e Bernhard Lloyd, um dos membros fundadores, dedicando-se à produção de música eletrônica em 2003. Hoje, Marian Gold, aos 70 anos, permanece como o único membro original, impulsionado por sua paixão pela música e pela conexão com o público. Ele afirma que “estar no palco e comunicar-se com as pessoas não apenas toca o coração, mas se torna um vício. Você quer continuar, mesmo na minha idade”.
Em 2022, Alphaville lançou seu álbum mais recente, “Eternally Yours”. E para aqueles que pensavam que a banda seria coisa do passado, uma surpresa estava reservada: “Forever Young” retornou às paradas musicais quarenta anos depois, graças ao fenômeno do TikTok. A canção se tornou uma tendência global, inspirando vídeos emocionantes de pessoas refletindo sobre a passagem do tempo e a perda da juventude, alguns acumulando milhões de curtidas. Marian Gold, que tem sete filhos, até participou da tendência com filmagens familiares caseiras, mostrando que a mensagem atemporal da música ainda ressoa.
Assim, o Alphaville continua a escrever sua história, provando que sua música tem o poder de unir gerações e transcender o tempo. A melodia e a mensagem de “Forever Young” ecoam, lembrando-nos que algumas canções são verdadeiramente eternas.







