Antes de se tornar um ícone do heavy metal com sua guitarra Gibson SG, Tony Iommi viveu uma experiência pouco conhecida, mas significativa, como integrante do Jethro Tull. Embora sua passagem pela banda tenha sido breve, ela trouxe lições importantes que impactaram a carreira do guitarrista e o futuro do Black Sabbath.
A surpreendente conexão entre Tony Iommi e Jethro Tull
Em 1968, Tony Iommi ainda tocava na banda Earth, o precursor do Black Sabbath, ao lado de Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Bill Ward. Foi nesse contexto que recebeu um convite inesperado: substituir Mick Abrahams, guitarrista do Jethro Tull que havia acabado de deixar a banda.
Essa oportunidade surgiu de maneira curiosa. Durante um show em que o Earth tocava ao lado do Jethro Tull, Iommi percebeu algo estranho. “Eu vi eles trocando bilhetes no palco e achei aquilo bem esquisito”, lembra o guitarrista. Após a apresentação, veio o convite para se juntar à banda liderada por Ian Anderson.
O teste que mudou tudo
O processo para ingressar no Jethro Tull foi competitivo e exigiu dedicação. Iommi viajou mais de 160 quilômetros de Birmingham a Londres para participar da audição. Ao chegar, viu uma fila enorme de músicos talentosos e quase desistiu. “Pensei: Ah, esquece isso”, conta ele. No entanto, um membro da equipe do Tull o incentivou a esperar em um café do outro lado da rua.
Ele foi o último a ser chamado e impressionou a banda com sua performance, garantindo a vaga. Após a apresentação no famoso Rolling Stones Rock and Roll Circus, Iommi discutiu com seus colegas do Earth sobre o que fazer. “No caminho de volta para casa, perguntei aos caras o que achavam, e todos disseram para eu aceitar o convite”, relembra.
O breve capítulo no Jethro Tull
A curta estadia de Iommi no Jethro Tull incluiu sua participação no lendário Rolling Stones Rock and Roll Circus. Esse evento reuniu gigantes como os Rolling Stones, The Who, e o supergrupo Dirty Mac (composto por John Lennon, Eric Clapton, Keith Richards no baixo e Mitch Mitchell na bateria). Foi um momento histórico, registrado no documentário dirigido por Michael Lindsay-Hogg.
Apesar de sua rápida integração, Iommi aprendeu muito sobre o funcionamento de uma banda profissional. O rigoroso cronograma de ensaios do Jethro Tull era uma novidade para ele. “Eles começavam pontualmente às 9 horas da manhã e depois paravam para almoçar. Era como um trabalho formal”, explica. Para alguém acostumado com a flexibilidade do Earth, onde os ensaios começavam após o meio-dia, isso foi um choque cultural.
Lições que moldaram o Black Sabbath
Essa experiência foi transformadora. Tony Iommi percebeu a importância da disciplina e da seriedade no mundo da música. “Aprendi que, se você quer uma carreira na música, precisa levar isso a sério”, afirma.
Com isso em mente, ele retornou ao Earth e compartilhou suas reflexões com seus colegas. “Depois do Rolling Stones Rock and Roll Circus, eu disse para os caras: Vamos voltar a nos reunir, mas precisamos trabalhar duro e nos dedicar de verdade.” Essa mudança de atitude foi crucial para o nascimento do Black Sabbath e para o desenvolvimento de seu som único, que moldou o heavy metal.
A decisão de sair do Jethro Tull
Embora breve, a passagem de Iommi pelo Jethro Tull foi significativa, mas não era seu destino. Após algumas apresentações, ele decidiu deixar a banda para se concentrar em seu projeto original. Essa decisão, embora arriscada, foi essencial para a consolidação do Black Sabbath como uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.
Ian Anderson, líder do Jethro Tull, seguiu outro caminho ao reformular a banda. Ele trouxe Martin Barre como novo guitarrista, marcando uma transição do blues-rock para sonoridades mais progressivas. Esse movimento ousado resultou em álbuns clássicos como Aqualung.
A influência de Iommi no heavy metal
Tony Iommi trouxe para o Black Sabbath não apenas suas habilidades como guitarrista, mas também uma mentalidade profissional que influenciou a forma como a banda se organizava e criava suas músicas. A abordagem rigorosa do Jethro Tull o inspirou a implementar uma ética de trabalho mais séria em sua própria banda.
Essa transformação foi evidente no impacto duradouro do Black Sabbath no cenário musical. O som pesado e sombrio da banda, combinado com sua dedicação ao ofício, ajudou a estabelecer as bases do heavy metal.
O legado do Rolling Stones Rock and Roll Circus
A apresentação de Iommi com o Jethro Tull no Rock and Roll Circus permanece como um marco histórico. Apesar de o evento ter sido arquivado pelos Rolling Stones devido à insatisfação com sua própria performance, ele foi redescoberto anos depois, ganhando status de culto entre os fãs de música.
Além disso, o Rock and Roll Circus ofereceu um raro vislumbre de Iommi fora do Black Sabbath, mostrando sua versatilidade e talento em um contexto diferente.
Conclusão
Embora Tony Iommi tenha passado apenas um curto período no Jethro Tull, essa experiência foi crucial para sua evolução como músico e líder. Ele não apenas ganhou uma nova perspectiva sobre o trabalho em equipe e a disciplina, mas também levou essas lições para o Black Sabbath, ajudando a banda a alcançar novos patamares.
O que poderia ter sido apenas um capítulo passageiro em sua carreira acabou se tornando um ponto de inflexão. A dedicação e o profissionalismo aprendidos no Jethro Tull foram integrados à essência do Black Sabbath, transformando-os em pioneiros do heavy metal.
Essa história é um lembrete de como momentos inesperados podem moldar nossas trajetórias, transformando desafios em oportunidades de crescimento e sucesso. Tony Iommi é a prova viva de que cada experiência, por menor que pareça, tem o poder de influenciar grandes realizações.
