Stewart Copeland é um nome que ressoa com uma energia particular no panteão dos bateristas de rock. Longe de ser apenas um acompanhador rítmico, Copeland foi o coração pulsante por trás de The Police, uma banda que, em sua essência, era uma explosão de criatividade e tensões produtivas. Seu estilo, muitas vezes instintivo e imprevisível, não apenas complementava as melodias de Sting, mas as elevava a um outro patamar, conferindo à banda uma identidade sonora inconfundível.
O Nascimento de um Som Único e a Filosofia Instintiva
A história de The Police começou, ironicamente, com Stewart Copeland. Foi ele quem vislumbrou o potencial em um jovem Sting no final dos anos 70. O que se seguiu foi uma jornada musical marcada por uma abordagem que desafiava o convencional. Stewart Copeland, desde o início, sabia como “servir a canção”, mas não da maneira que se esperaria.
Para ele, era uma dança entre melodia, ritmo vocal e o riff da bateria, um processo quase primal. Ele admitiria mais tarde que, muitas vezes, não pensava em “servir a canção” no sentido tradicional. “Eu sei que isso é um sacrilégio, mas é assim que o instinto funcionava”, revelou.
Essa liberdade criativa se manifestava em cada batida, tornando as músicas de The Police intrigantes e cheias de nuances. Em álbuns como “Zenyatta Mondatta”, essa interação se tornou ainda mais evidente, com Copeland explorando texturas de reggae em faixas como ‘Canary in A Coalmine’ e conferindo um respiro vital a ‘Driven to Tears’.
A habilidade de Stewart Copeland em criar padrões de bateria no momento, muitas vezes com pouquíssima orientação de Sting, é lendária. Ele descreve o processo de escolher quais músicas gravar como um simples “Que se dane, vamos tocar isso”. Essa espontaneidade era a alma do som da banda, especialmente quando a pressão externa começou a aumentar.
A Pressão do Sucesso e a Busca pela Essência
Com o lançamento de “Zenyatta Mondatta”, The Police encontrou-se em uma encruzilhada. O álbum marcava uma transição entre suas raízes garage-rock e a sonoridade mais atmosférica que viria a explorar. No entanto, o sucesso comercial trouxe consigo um novo tipo de pressão.
Copeland recorda que “Zenyatta foi quando começamos a sentir a pressão do sucesso comercial. As apostas eram maiores”. O que antes era um trio de músicos fazendo “o que achávamos legal” transformou-se em uma “máquina a ser alimentada”. A intrusão de executivos de gravadora no estúdio para decidir singles adicionou uma camada de estresse que mudou a dinâmica da banda.
A resposta de Stewart Copeland e companhia foi radical: buscar um refúgio criativo. Em busca de liberdade, a banda optou por gravar em Montserrat, longe de “vozes externas” e reclamações. O que esperavam ser um paraíso, no entanto, tornou-se, nas palavras de Copeland, “um inferno entre nós três, sem qualquer intrusão comercial”.
Essa tensão criativa interna, longe de ser negativa, alimentou a sonoridade dos discos posteriores, mostrando que a banda, com sua ética punk, não cederia facilmente às demandas da indústria.
A Magia da Espontaneidade e o Legado Duradouro
Apesar das pressões e tensões, a magia da gravação do The Police residia na espontaneidade. Muitas faixas foram gravadas em poucos takes, com Copeland construindo a base rítmica para Sting e Andy Summers explorarem suas ideias. Ele não via isso como menos cuidado, mas como uma forma de capturar a banda “descobrindo as músicas em tempo real”.
“Essa energia de exploração dá um fator X a essas gravações”, explicou Stewart Copeland. “Eu acho que elas não teriam sido tão boas se eu tivesse tido a chance de aprender as partes. Não teriam tido o mesmo ‘buzz'”. Essa filosofia de confiar no instinto e na energia do momento é o que diferencia Stewart Copeland.
Ele sempre priorizou a performance, a “batida” que dava vida às músicas. Décadas depois, Copeland olhou para trás com “grande simpatia” para Sting, percebendo a profundidade das letras que ele, na época, ignorava, focado em sua “Guerra Mundial III” rítmica. Essa introspecção apenas solidifica seu lugar como um baterista que não se encaixa em moldes, que moldou o som de uma era através de uma dedicação inabalável à sua própria visão rítmica.
Stewart Copeland pertence à rara companhia de drummers lendários como John Bonham, Mitch Mitchell e Ringo Starr. Sua capacidade de ser a espinha dorsal de cada música de The Police, com uma fundação sólida e imprevisível, é o que o torna um dos bateristas mais importantes e inovadores de todos os tempos. Seu legado não é apenas sobre as notas tocadas, mas sobre a energia, o instinto e a pura paixão que ele derramou em cada performance.







