Quando o Lynyrd Skynyrd emergiu no cenário mundial em 1973, parecia mais um nome no efervescente movimento do southern rock. No entanto, rapidamente ficou claro que esses músicos da Flórida não eram apenas uma unidade musical totalmente distinta, mas também uma das maiores bandas de rock do mundo. Sua ascensão foi o resultado de uma determinação coletiva, após anos lutando por reconhecimento desde sua formação, oito anos antes. Eles ousaram ser uma banda “redneck biker do sul” – um conceito maluco, mas que funcionou.
A força motriz por trás do Skynyrd era Ronnie Van Zant, um brawler de colarinho azul que liderava a banda com sua presença de palco poderosa, vocais distintos e letras cruas e honestas. Sua energia e visão impulsionaram o grupo desde sua formação até seu trágico fim em 1977. Ronnie era um líder nato, mentor e escritor, com um carisma que cativava a todos. Ele era um compositor prolífico, com 80 a 90% das músicas dos seis álbuns da banda sendo consideradas de primeira linha.
A Ascensão de Lynyrd Skynyrd: Raízes e Reconhecimento
Nascido em Jacksonville, Flórida, em 1948, Ronnie Van Zant cresceu no lado oeste semi-rural da cidade, em um bairro operário conhecido como Shantytown. Longe das regras, Ronnie era um “garoto caipira descalço” que passava os dias pescando no Cedar Creek. No entanto, o bairro difícil forjou sua personalidade temperamental, tornando-o um dos garotos mais durões do bloco.
Apesar de ser atraído pela música desde cedo, influenciado por nomes como Merle Haggard, as primeiras ambições de Van Zant não eram artísticas. Ele sonhava em ser um piloto de stock car e, mais tarde, um boxeador, mas acidentes e brigas o desviaram desses caminhos. O verdadeiro ponto de virada veio em 1965, após assistir a um concerto dos Rolling Stones em Jacksonville. A performance inspiradora de Mick Jagger acendeu nele o desejo de “ser um rock and roll”, de sair de Shantytown e se tornar alguém.
Em poucas semanas, Van Zant já liderava um grupo adolescente, “The Squires”, que ele logo renomeou para “Us”. Esse período o levou a conhecer o guitarrista Allen Collins e o baixista Larry Steele. A reputação de Ronnie como “brigador de rua” precedia-o, mas ele revelou ser uma pessoa educada e inteligente. Embora sua banda tenha vencido uma “batalha de bandas” contra a de Allen, Ronnie rapidamente percebeu que precisava de mais habilidade e foco em seus companheiros. Assim, ele se uniu a Gary Rossington e Bob Burns, buscando então Allen Collins para completar o que viria a ser o som de três guitarras.
O grupo, inicialmente batizado de “The Noble Five”, começou a tocar covers de bandas da Invasão Britânica. Eles eram, segundo alguns, uma das melhores bandas de covers do mundo, mas o conselho de Dwayne Allman (dos The Allman Brothers Band) de focar em material original foi um divisor de águas. Inspirados, eles se mudaram para uma cabana isolada na cidade de Green Cove Springs, que carinhosamente chamavam de “Hell House”. Lá, sob a liderança de Ronnie, a banda ensaiava sete dias por semana, transformando-se lentamente em uma força do rock.
Em 1969, ainda sob o nome de “The One Percent”, eles gravaram duas canções promocionais. Embora o som ainda não fosse totalmente original, a gravação marcou um passo importante. Pouco depois, eles mudaram o nome para Lynyrd Skynyrd, uma homenagem ao professor de ginástica da escola, Leonard Skinner. A banda então fez um teste para Alan Walden, irmão do fundador da Capricorn Records, Phil Walden. Alan ficou impressionado, especialmente após a performance de “Free Bird”, e assinou com eles para gerenciamento e produção.
O Contrato com Al Kooper e o Lançamento de *Pronounced ‘Lěh-ńérd Skin-ńérd*
Apesar dos esforços de Alan Walden, muitas gravadoras recusaram o Skynyrd, citando a semelhança com os Allman Brothers e a “arrogância” de Ronnie. A virada veio em 1973, quando Al Kooper, músico e produtor renomado, viu a banda tocar em Atlanta. Ele reconheceu o som único deles e, influenciado pelo amor mútuo pela banda Free, decidiu produzi-los. Kooper montou seu próprio selo, Sounds of the South, sob a MCA Records, e ofereceu-lhes um contrato. Embora os termos fossem modestos, era a única chance da banda.
Com a oportunidade de gravar o álbum de estreia, o baixista Leon Wilkeson saiu temporariamente, sendo substituído por Ed King, ex-Strawberry Alarm Clock. King, que inicialmente tocou baixo, logo se tornaria o terceiro guitarrista. Em março de 1973, com Billy Powell no piano, o Lynyrd Skynyrd entrou no Studio One para gravar seu primeiro álbum. Kooper notou a singularidade da banda: solos de guitarra “pré-escritos e memorizados”, sem improvisação, algo incomum no rock. Apesar de algumas tensões criativas, a visão de Ronnie e a persistência de Kooper resultaram em um álbum histórico.
Lançado em 13 de agosto de 1973, Pronounced ‘Lěh-ńérd Skin-ńérd foi um debut poderoso. Anunciava a banda como uma entidade única e autoconfiante, com clássicos como “Gimme Three Steps”, “Simple Man” e, claro, “Free Bird”. O som distinto e a visão clara da banda estavam lá desde o início, e o álbum, embora não tenha sido um sucesso imediato, construiu sua reputação.
O Legado Imortal de Lynyrd Skynyrd: Música e Tragédia
O Lynyrd Skynyrd ganhou visibilidade ao abrir shows para o The Who na turnê Quadrophenia em 1973. Essa exposição os catapultou para o estrelato. Em 1974, lançaram Second Helping, um álbum que solidificou sua posição e trouxe sucessos como “Call Me the Breeze” e a icônica “Sweet Home Alabama”. Esta última, em parte um hino ao sul, também gerou controvérsia por suas referências a Neil Young e ao governador segregacionista George Wallace. No entanto, a canção se tornou o primeiro top 10 da banda e os impulsionou internacionalmente.
Apesar do sucesso, a banda enfrentava problemas internos. O consumo excessivo de álcool e drogas levou a brigas e acidentes, culminando na saída de Ed King e, posteriormente, de Bob Burns, que foi substituído por Artemis Pyle. Álbuns como Nothing Fancy (1975) e Gimme Back My Bullets (1976) mostraram a banda em meio a dificuldades criativas e pessoais, embora ainda fossem fortes ao vivo.
Em 1976, com a adição das backing vocals The Honkettes e do guitarrista Steve Gaines, o Lynyrd Skynyrd se revitalizou. Gaines, um jovem virtuoso, trouxe nova energia e contribuições significativas para o som da banda. O álbum ao vivo One More from the Road (1976) e a performance lendária no Festival de Knebworth (abrindo para os Rolling Stones) reafirmaram seu status como uma das maiores atrações ao vivo do mundo.
O álbum **Street Survivors**, lançado em outubro de 1977, marcou um retorno fenomenal. Com Steve Gaines contribuindo como compositor e vocalista em uma faixa, e Ronnie Van Zant no auge de sua composição, o álbum soava revitalizado. Canções como “That Smell” revelavam a consciência de Ronnie sobre os perigos do estilo de vida da banda, uma previsão arrepiante do que estava por vir.
Tragicamente, dias após o lançamento de Street Survivors, em 20 de outubro de 1977, o avião fretado que transportava a banda e sua equipe caiu. **Ronnie Van Zant**, **Steve Gaines**, **Cassie Gaines** (backing vocal) e o assistente **Dean Kilpatrick** foram mortos no impacto. O resto dos membros sobreviveram com ferimentos graves. A queda do avião marcou o fim abrupto da formação original do Lynyrd Skynyrd.
O legado do Lynyrd Skynyrd, especialmente de sua primeira era, permanece intocado. A música da banda continua a encontrar novos ouvintes e a inspirar gerações. **Ronnie Van Zant**, com sua presença de palco inigualável e suas letras que contavam a história de sua vida, continua sendo um talento singular na história do rock. Seu estilo “sem frescuras” e sua voz influenciaram profundamente não apenas o rock, mas também artistas da música country, mostrando que a verdadeira arte transcende gêneros e perdura, muito tempo após a última nota ter sido tocada.






