Kiss e Rush: A Canção Inesperada Que Ligou Duas Lendas do Rock
Kiss e Rush: A Canção Inesperada Que Ligou Duas Lendas do Rock

Kiss e Rush: A Canção Inesperada Que Ligou Duas Lendas do Rock

Em uma primeira olhada, parece haver pouquíssima coisa que ligue os teatrais roqueiros do Kiss às lendas do metal progressivo Rush. O Kiss sempre foi sobre o espetáculo que entregavam, muitas vezes ignorando as notas perdidas em favor de um rock and roll direto e impactante. Em contraste gritante, o Rush era composto por mestres técnicos que exigiam perfeição de si mesmos, pois suas elaboradas composições não toleravam falhas. Imaginar essas duas bandas no mesmo palco nos anos 70 seria o suficiente para causar um curto-circuito em lados opostos do seu cérebro musical.

No entanto, se você estivesse pela América do Norte em meados dos anos 70, poderia ter testemunhado exatamente isso. O Kiss recrutou o Rush como banda de abertura em uma série de turnês pelos Estados Unidos e Canadá durante os primeiros dias da banda canadense, dando início a uma guerra de brincadeiras quase tão lendária quanto suas respectivas carreiras.

O Encontro dos Gigantes: Quando o Espetáculo Encontra a Virtuosidade

Apesar das diferenças estilísticas e da abordagem musical, a relação entre Kiss e Rush durante as turnês foi de respeito mútuo e camaradagem. Gene Simmons, baixista e um dos pilares do Kiss, era particularmente fã do álbum de estreia do Rush. Em um documentário sobre a banda, ‘Rush: Beyond the Lighted Stage’, Simmons não poupou elogios, referindo-se ao trabalho como ‘o Led Zeppelin canadense‘. Essa admiração mútua criava um ambiente único nos bastidores, onde a rivalidade artística se transformava em uma curiosa colaboração.

A chegada do baterista Neil Peart empurrou o Rush para uma direção mais progressiva, consolidando sua sonoridade complexa e intrincada. Eles continuaram a evoluir, lapidando suas habilidades e construindo uma base de fãs leais que apreciavam a virtuosidade instrumental e as letras profundas. Contudo, mesmo com sua inclinação para o progressivo, o Rush ainda encontrava elementos inspiradores no hard rock direto e teatral do Kiss, provando que a boa música transcende rótulos e estilos.

A história dessas turnês conjuntas é recheada de anedotas e momentos marcantes. Enquanto o Kiss cativava a plateia com pirotecnia, maquiagem e um show grandioso, o Rush entregava performances cruas e intensas, focadas na habilidade musical impecável. Essa dinâmica, embora contrastante, preparava o terreno para uma interação criativa que culminaria em uma das mais curiosas referências musicais da história do rock.

Kiss e Rush: A Canção Inesperada Que Ligou Duas Lendas do Rock

De ‘Goin’ Blind’ a ‘I Think I’m Going Bald’: A Inspiração por Trás do Humor

Uma canção do segundo álbum do Kiss, ‘Hotter Than Hell’, serviu como uma inspiração inesperada para um clássico do Rush. A faixa em questão, ‘Goin’ Blind’, abordava um tema bastante peculiar e controverso, típico do estilo provocador do Kiss. A letra foca na tentativa de um homem de 93 anos de conversar, ou talvez flertar, com uma garota de apenas 16 anos. Em seu estilo característico, a música é um número de rock exagerado, mas desta vez desacelerado para se tornar uma balada sobre a ‘safadeza’ na velhice.

Embora o Kiss raramente tenha tocado ‘Goin’ Blind’ ao vivo, a canção teve um impacto profundo no Rush. A banda canadense pegou os temas de idade e perda e os transformou em uma resposta seriocômica e muito particular: ‘I Think I’m Going Bald’. Essa faixa, presente em seu álbum de 1975, ‘Caress of Steel’, tinha suas raízes tanto na música original do Kiss quanto em algumas das ansiedades internas da própria banda.

O baixista e vocalista Geddy Lee explicou a origem da música em uma entrevista: ‘Estávamos em muitas turnês com o Kiss naqueles dias e eles tinham uma música chamada ‘I Think I’m Going Blind’. Então, nós meio que estávamos tirando sarro desse título, apenas inventando isso’. Lee também compartilhou que o guitarrista Alex Lifeson estava paranoico com a queda de cabelo na época e estava usando ‘todos os tipos de ingredientes para colocar no couro cabeludo’. E ele completa: ‘Acho que isso fez Neil [Peart] começar a pensar sobre o envelhecimento‘.

Assim, o que começou como uma observação humorística sobre a música de seus companheiros de turnê, combinada com as preocupações pessoais da banda, resultou em uma canção que se tornou um clássico cult no repertório do Rush. ‘I Think I’m Going Bald’ exemplifica a capacidade do Rush de transformar experiências cotidianas e referências externas em letras inteligentes e arranjos musicais complexos, sempre com uma pitada de seu humor característico.

Essa conexão inusitada entre ‘Goin’ Blind’ e ‘I Think I’m Going Bald’ é um testemunho fascinante de como a inspiração pode surgir das fontes mais inesperadas. Duas bandas com estéticas tão distintas se encontraram no palco e, através de uma mistura de admiração e brincadeira, criaram uma ponte musical que até hoje intriga os fãs e mostra a rica tapeçaria do rock dos anos 70.

Legado de Conexões Improváveis no Rock

Apesar das suas abordagens radicalmente diferentes – o Kiss focado na teatralidade e no show, o Rush na complexidade musical e lírica – a história de sua colaboração nos anos 70 é um lembrete de que a música é um campo vasto e interconectado. A influência de uma banda sobre a outra pode ser sutil ou explícita, mas sempre enriquece o cenário musical.

Este episódio entre Kiss e Rush não é apenas uma curiosidade histórica; é uma prova da camaradagem e da polinização cruzada de ideias que ocorrem nos bastidores da indústria da música. Ele nos convida a explorar as profundezas das discografias e a descobrir as histórias escondidas que moldaram alguns dos nossos artistas favoritos.

Da próxima vez que você ouvir ‘I Think I’m Going Bald’, lembre-se da engraçada e inesperada inspiração que veio de uma balada sobre envelhecimento do Kiss. É um lembrete de que, no mundo do rock, até as maiores diferenças podem gerar as mais interessantes conexões.

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