Em 1991, o Guns N’ Roses já estava consolidado como a maior banda do planeta quando lançou dois álbuns que mudariam a face da música rock: Use Your Illusion I e II. Mais do que meros discos, eles foram uma declaração grandiosa de superstardom, acompanhada por uma turnê mundial monumental que nenhuma outra banda conseguiu igualar. A audácia de lançar dois álbuns duplos de material de estúdio original no mesmo dia demonstrou o poder que o sucesso estrondoso de “Appetite for Destruction” havia conferido à banda, permitindo-lhes fazer as coisas “à sua maneira”.
As filas em frente às lojas de discos eram noticiadas, e a banda, que antes vivia de biscoitos e molho, de repente se viu no centro de uma história lendária. Este período marcou não apenas a música, mas também a própria indústria, com uma intensidade raramente vista.
A Ascensão Meteórica no Sunset Strip
Antes mesmo da extravagância de 1991, o Guns N’ Roses já havia conquistado o sucesso com uma velocidade impressionante, emergindo da vibrante e fértil cena rock de Los Angeles. A cidade era um verdadeiro caldeirão para roqueiros de todas as partes do mundo, um lugar onde muitos sonhavam em ser descobertos. Locais icônicos como o Rainbow Bar and Grill ofereciam a sinergia perfeita para que os sonhos musicais pudessem se tornar realidade.
Em meados dos anos 80, o Guns N’ Roses se destacava. Enquanto o Sunset Strip estava repleto de bandas glam metal, com cabelos armados e maquiagem, o GNR apresentava uma sonoridade mais crua e visceral. Eles tinham o “fator X” que os diferenciava, uma energia agressiva e autêntica que os fazia sobressair em meio ao clichê do hair metal da época.
O Espírito Selvagem e a Química Única
A ascensão do Guns N’ Roses foi um testemunho da química única entre seus membros, um grupo de roqueiros selvagens, espirituosos e inegavelmente talentosos. Axl Rose, o ponto focal, com sua volatilidade e sensibilidade, complementava perfeitamente Slash, que era mais calmo e descontraído. Izzy Stradlin e Steven Adler, com suas personalidades mais relaxadas, e Duff McKagan, vindo do punk, adicionavam camadas distintas à sonoridade da banda.
Essa combinação explosiva, liderada pela visão singular de Axl, era inigualável. Não havia como não terem feito sucesso. O rock and roll, que havia se tornado um tanto “brando” nos anos 70 e 80, encontrou no Guns N’ Roses uma injeção de atitude e liberdade, um som que falava diretamente aos jovens em busca de uma banda que os representasse. A autenticidade e a capacidade de complementarem-se musicalmente e em termos de carisma foram a receita para o seu estrondoso sucesso.
A Gênese de uma Obra Gigantesca
O processo de gravação dos álbuns Use Your Illusion foi tão épico quanto os próprios discos. Inicialmente, Steven Adler ainda era o baterista, mas seus problemas com drogas levaram à sua substituição por Matt Sorum, ex-integrante do The Cult. A banda estava em seu auge musical, mesmo com os desafios pessoais. Slash, em particular, era um guitarrista excepcional, e sua paixão pela música era evidente em cada nota. Para uma visão aprofundada sobre as influências de grandes guitarristas, confira A Canção do Led Zeppelin que Fez Slash Amar a Les Paul.
Com uma vasta quantidade de material acumulado ao longo dos anos e durante as turnês, o Guns N’ Roses tomou a ousada decisão de lançar dois álbuns duplos. Essa escolha refletia uma húbris criativa e musical, típica de uma banda que estava no topo do mundo e podia fazer o que quisesse. As sessões de gravação foram longas e não convencionais, com a banda buscando um som cru e menos “limpo”, o que levou à escolha de Bill Price, mixer dos Sex Pistols, para a mixagem final.
Os Hinos Inesquecíveis: De “November Rain” à “Civil War”
Com trinta faixas de material inédito, os álbuns Use Your Illusion ofereceram uma jornada musical diversificada. Faixas como “Don’t Cry”, uma das canções mais sérias da banda, e o épico “November Rain”, com seu vídeo multimilionário, tornaram-se marcos inesquecíveis. Axl Rose, um admirador confesso de Elton John, via “November Rain” como uma balada grandiosa que se tornaria um clássico, o que de fato aconteceu. Para saber mais sobre a influência de lendas da música, vale a leitura de Elton John e “The Union”: O Blueprint de uma Lenda.
Além das baladas, o GNR explorou temas sombrios em “Coma” e abordagens políticas em “Civil War”, uma canção com uma mensagem significativa e um poder brutal. A controvérsia também se fez presente em “Get in the Ring”, um ataque lírico a críticos de rock. As versões cover de “Live and Let Die” (Paul McCartney) e “Knockin’ on Heaven’s Door” (Bob Dylan) também se tornaram hinos da banda, mostrando sua capacidade de reinventar clássicos e incorporá-los ao seu próprio estilo.
O Furacão da Turnê e o Legado Duradouro
A turnê do Guns N’ Roses para “Use Your Illusion” foi um espetáculo de proporções gigantescas, mas também um furacão de caos. Motins de público, atrasos de Axl Rose e explosões no palco se tornaram comuns, como o infame incidente em St. Louis. Apesar dos problemas e da ascensão do grunge, que mudava o cenário musical, o Guns N’ Roses manteve sua popularidade, lotando estádios e provando que o “velho guarda” do rock ainda tinha seu lugar.
A saída de Izzy Stradlin, uma figura crucial na composição e na química da banda, marcou o início de uma lenta desintegração. O álbum de covers “The Spaghetti Incident?” e o longamente adiado “Chinese Democracy” foram lanços posteriores que nunca alcançaram a magnitude dos trabalhos anteriores. No entanto, o impacto do Guns N’ Roses e, em particular, dos álbuns Use Your Illusion, é inegável. Eles definiram uma geração e continuam a influenciar a cultura musical, provando que, apesar do caos, sua música e sua atitude criaram um legado que perdurará por muitas gerações.
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