A Montanha Sagrada: A viagem psicodélica financiada por John Lennon

Em 1973, os Beatles estavam, para dizer o mínimo, bancados. John Lennon, com o bolso cheio, injetou parte de sua fortuna em “A Montanha Sagrada”, a alucinógena jornada cinematográfica de Alejandro Jodorowsky. O interesse de Lennon na obra de Jodorowsky surgiu graças à fascinação de George Harrison com seu filme anterior, “El Topo”. Uma breve descrição do enredo e dos interesses do diretor ajuda a elucidar essa conexão.

Inspirada em Tarot, Cristo e Alquimia

Inspirado simultaneamente pelo tarot, por Cristo, pela alquimia e por rituais transformadores, “A Montanha Sagrada” parece, à primeira vista, um reflexo da vida da banda no final da década de 1960. Mas, se fosse realmente isso, duvido que o grupo teria sobrevivido para gravar seus álbuns finais. O filme de Jodorowsky vai muito além de uma simples viagem a um retiro de ioga. Essa película psicodélica se move entre diferentes escolas de pensamento, numa viagem mental que é, ao mesmo tempo, esclarecedora e totalmente absurda.

Um Início Alucinógeno

Começando com um homem deitado na sujeira, representando o Louco no tarot e simbolizando novos começos, mas também uma inexperiência e insegurança, ele assume a forma de um pseudo-Jesus. Em uma sequência inicial sem diálogos, o diretor não perde tempo em mergulhar o espectador num mundo selvagem, intemporal e sem localização definida, onde sapos recriam cenas históricas e o homem precisa escapar de uma “fábrica de Jesus”, onde freiras tentam fazer moldes de seu corpo para vender a igrejas. É um daqueles filmes em que raramente se sabe o que está acontecendo, mas tanto faz.

Uma Jornada Espiritual

Principalmente quando o homem entra numa torre misteriosa e é forçado a se drogar com sua própria fezes cozidas, enquanto um místico declara: “Você é excremento. Você pode se transformar em ouro“. Então, ele é apresentado a um comitê de outras figuras, cada uma com sua própria história e representando um planeta diferente; a narrativa se torna ainda mais desprendida. Mas, então, ela encontra um foco. Agora parte deste comitê, o grupo de dez embarca numa jornada espiritual e literal. Nunca se sabe realmente qual é o objetivo, mas, à medida que avançam, eles passam por uma série de rituais e provações em busca da Montanha Sagrada, em perfeita sintonia com as próprias missões e buscas espirituais dos Beatles.

O Financiamento de Lennon e a Visão de Jodorowsky

Claramente, algo neste belo devaneio cinematográfico ressoou com Lennon e Yoko Ono, que contribuíram generosamente. A quantia exata é desconhecida, mas diz-se que o casal deu ao diretor cerca de um milhão de dólares para fazer o filme, além de incentivar Allen Klein a também contribuir. Quem sabe quanto disso foi gasto nas copiosas quantidades de LSD que Jodorowsky consumia durante a produção, ou no mestre zen japonês que ele pagou para guiá-lo por uma semana de sono zero antes de começarem. Mas, no final das contas, o dinheiro resultou num filme visualmente deslumbrante e totalmente desconcertante, que começa com uma atmosfera sobrenatural e termina com humor impassível numa reviravolta final – algo com o qual Lennon provavelmente se identificou.

Um Legado Psicodélico

“A Montanha Sagrada” não é um filme fácil de entender ou digerir. É uma experiência sensorial, um caleidoscópio de imagens e ideias que desafiam a interpretação tradicional. A influência de Lennon na produção é inegável, refletindo os interesses espirituais e a disposição para abraçar o experimental que definiram a era psicodélica e a própria trajetória artística dos Beatles. O filme permanece como um marco do cinema experimental e um testamento à visão singular de Alejandro Jodorowsky, financiada pela generosidade e pelo espírito aventureiro de John Lennon. Sua influência no cinema e na cultura pop continua a ser sentida até hoje. A Montanha Sagrada não é apenas um filme; é uma viagem.

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