A palavra “Motorhead” evoca uma imagem imediata de som implacável, energia crua e a figura imponente de Lemmy Kilmister. Muito mais do que apenas uma banda de rock, Motorhead foi uma força da natureza que redefiniu os limites da velocidade e da agressão musical. Desde o primeiro acorde até o último grito, a banda entregava uma experiência visceral que poucos ousavam igualar.
Lemmy sempre insistiu: “Nós não somos metal, não somos punk, não somos hard rock. Somos rock and roll“. Essa declaração de intenção permeou toda a sua carreira, resultando em uma sonoridade única que vibrava as pessoas até a alma. O som de Motorhead era uma parede de ruído glorioso, com a voz de Lemmy soando como uma corrente enferrujada, a bateria de Phil ‘Filthy Animal’ Taylor como uma avalanche e a guitarra de ‘Fast’ Eddie Clark como uma onda torrencial de chapa metálica.
A Origem de um Som Inconfundível
A história do Motorhead começa com a saída conturbada de Lemmy da banda Hawkwind. Conhecido por sua abordagem mais agressiva ao baixo e seu estilo de vida “speed freak”, Lemmy levou consigo elementos do que aprendeu, mas com uma intenção clara: criar algo brutal, alto e sem concessões. Originalmente pensando em chamar a banda de “Bastard”, o nome Motorhead – em homenagem a um termo para viciados em anfetaminas – acabou sendo escolhido, selando o destino da banda.
A primeira gravação do Motorhead foi uma versão frenética da canção “Motorhead”, um antigo número do Hawkwind. No entanto, foi com o lançamento de seu álbum de estreia homônimo que a banda começou a forjar sua identidade. Embora um crítico tenha os chamado de “a pior banda do mundo”, isso só despertou a curiosidade do público, atraindo hippies desiludidos, fãs do Hawkwind e punks que se conectaram com a energia, a sujeira e a agressão do som.
O Império de “Overkill” e “Ace of Spades”
“Overkill”, o primeiro álbum gravado com o lendário produtor Jimmy Miller (conhecido por seu trabalho com os Rolling Stones), marcou um ponto de virada. Miller conseguiu capturar a imensa força da banda de forma mais limpa, mas sem perder a sujeira característica. A faixa-título “Overkill” é um tour de force, com a bateria assustadoramente rápida de Phil Taylor definindo um novo padrão para bateristas de metal, um som bombástico que era pura velocidade.
Mas foi com “Ace of Spades” que o Motorhead atingiu o ápice comercial e de influência. Este álbum não é apenas um clássico, é um marco. A faixa-título é o epítome do som do Motorhead: não é punk, não é metal, é a banda em seu zenite absoluto. As letras de Lemmy, embora aparentemente sobre cartas de baralho, carregavam uma profundidade existencial, especialmente no famoso verso “I don’t want to live forever” – um grito por viver intensamente e ter tudo, pelo maior tempo possível.
Com “Ace of Spades”, o Motorhead conquistou o mainstream sem se tornar “ameaçador” na percepção geral. Sua imagem de “caubóis do rock” com ponchos em um cenário de faroeste (que parecia mais uma caixa de areia escolar) tornou-os personagens excêntricos e amados, não rebeldes perigosos. Este álbum consolidou sua posição como uma das maiores bandas britânicas.
A Força Indomável do Palco e o Legado Contínuo
A verdadeira essência do Motorhead sempre esteve no palco. O álbum ao vivo “No Sleep ‘til Hammersmith”, que alcançou o primeiro lugar nas paradas, é a prova máxima. Lançado no auge da criatividade e sucesso da banda, ele capturou a energia, a imaginação, a agressão e a personalidade que faziam de seus shows uma experiência inesquecível. Como muitos fãs atestam, para realmente entender o Motorhead, era preciso vê-los ao vivo.
Mesmo com mudanças de formação – a saída de ‘Fast’ Eddie Clark e a breve passagem de Brian Robertson em “Another Perfect Day”, e a introdução de Phil Campbell e Würzel como dois guitarristas, que culminou em álbuns como “Orgasmatron” – a banda persistiu. Canções como “Killed by Death” com a nova formação provaram que o Motorhead estava de volta, e melhor do que nunca, mostrando que a visão de Lemmy permanecia inabalável.
A musicalidade de Lemmy, muitas vezes ofuscada por sua personalidade icônica, é um aspecto crucial do som do Motorhead. Seu estilo de tocar baixo Rickenbacker com distorção, quase como uma guitarra rítmica, era fundamental para a parede de som. Ele não apenas tocava as notas de raiz, mas as atacava, preenchendo o espaço de uma banda de três peças com acordes e harmônicos surpreendentes. Suas letras, por sua vez, eram poéticas e significativas, abordando temas em que ele realmente acreditava, com um humor e profundidade únicos.
O Motorhead, em todas as suas encarnações, sempre foi sobre a energia e a atitude. Apesar dos altos e baixos, das mudanças na indústria e dos desafios pessoais, Lemmy nunca permitiu que a banda morresse. O som do Motorhead é inimitável, uma mistura de rock and roll, heavy metal e punk, tudo sob o selo de sua própria identidade. Lemmy se tornou um tesouro nacional, um símbolo de uma era, e o Motorhead continua sendo um marco eterno na história da música.







