Metallica: A Voz Inesperada em ‘The Memory Remains’ e Sua Evolução Sonora

O Metallica sempre foi conhecido por ser um grupo musical bastante isolado. Durante a produção do álbum St. Anger, por exemplo, Jason Newsted acabou deixando a banda estritamente devido às regras que proibiam qualquer projeto paralelo. Embora James Hetfield e Lars Ulrich pudessem desaprovar a produção não-Metallica de seus colegas, eles não estavam acima de trazer sangue novo para seus discos.

Após anos de perfeição no thrash metal, a decisão da banda de trabalhar com o produtor Bob Rock para o ‘Black Album’ resultou em algumas das suas músicas mais robustas em anos. Faixas como ‘Nothing Else Matters’ e ‘Enter Sandman’ se tornaram hinos, marcando uma nova fase para o grupo. Mesmo que o álbum tenha sido duramente criticado por fãs puristas que preferiam o som clássico da banda, ele guardava mais de algumas surpresas em suas sonoridades.

A Ruptura com o Passado: Do Thrash ao ‘Black Album’

Para além dos riffs maciços de Hetfield, o Metallica começou a explorar mais instrumentos do que nunca. Em meio às faixas menos óbvias, a banda inseria vários efeitos sonoros para conduzir as músicas, desde o som de uma arma sendo engatilhada em ‘The God That Failed’ até o uso de um baixo de 12 cordas para obter a introdução potente de ‘Wherever I May Roam’. Essas inovações mostravam que o grupo estava disposto a desafiar as expectativas.

Se os fãs pensaram que uma mudança de direção era estranha em 1991, eles não tinham ideia do que viria nos anos seguintes. Abandonando sua imagem de deuses do metal de cabelos longos, o álbum Load viu o Metallica adentrar a era alternativa, absorvendo uma série de elementos que ainda cresciam na esteira do grunge. Foi um período de intensa reinvenção e busca por novas sonoridades.

Nunca recuando diante de um desafio, a banda dobraria a aposta na experimentação com ReLoad. Embora faixas como ‘Devil’s Dance’ e ‘Better Than You’ pudessem parecer uma releitura de glórias passadas, um dos singles de abertura do álbum apresentou algo inédito: o único vocalista convidado a aparecer em um projeto do Metallica até então.

O Encontro Inesperado: Marianne Faithfull em ‘The Memory Remains’

Com exceção dos vocais de apoio ocasionais do restante da banda, James Hetfield sempre foi o responsável por cada letra cantada nos álbuns anteriores. Ele narrava histórias angustiantes sobre temas sombrios, como em ‘One’ e ‘The Unforgiven’, construindo uma identidade vocal forte e reconhecível para o Metallica.

Ao gravar ‘The Memory Remains’, as letras de Hetfield sobre uma primadona desvanecida pareciam mais adequadas para uma verdadeira lenda viva. A música pedia uma profundidade e uma experiência que transcendessem o universo usual da banda. Foi nesse ponto que a ideia de uma colaboração externa começou a ganhar forma.

A Voz da Experiência: O Convite a Marianne Faithfull

Enquanto Hetfield canta a maior parte da faixa, as seções de transição apresentam os vocais marcantes de Marianne Faithfull. Famosa por canções como ‘As Tears Go By’ e por sua trajetória repleta de rebeldia no rock and roll, incluindo seu relacionamento anterior com Mick Jagger, a voz envelhecida e característica de Faithfull sobre a base instrumental do Metallica deu uma nova perspectiva às letras.

A própria Faithfull descreveu o inusitado convite em entrevista à Billboard: “Eu estava na Irlanda, vivendo tranquilamente minha bela vida, e de repente o telefone tocou e uma voz disse: ‘Olá, Marianne Faithfull? Aqui é Lars do Metallica’”. Ela prosseguiu: “E então a história se desenrolou de que o que eles queriam era voar para Dublin e me gravar para ‘The Memory Remains’ e me colocar na música, e foi o que fizeram. E fiz grandes amigos com eles, claro, e mantivemos contato.”

Essa colaboração foi um marco. Afinal, ‘The Memory Remains’ é a única música que apresenta qualquer pessoa fora do Metallica nos vocais principais. Isso sublinha a singularidade e a importância da contribuição de Faithfull para a história da banda, que estava em um momento de profunda exploração artística.

Após a era Load, no entanto, a experimentação havia atingido um pico. Nos anos seguintes, o Metallica passaria por alguns dos meses mais difíceis de sua existência, desde a saída de Hetfield para ir para a reabilitação até a incerteza sobre seu retorno ao grupo. Foi um período de introspecção e desafios pessoais, que colocaram em xeque o futuro da banda.

Embora a banda esteja em um lugar mais saudável agora, o legado de ‘The Memory Remains’ e a presença de Marianne Faithfull permanecem intocados. Quando tocam a música ao vivo, Hetfield não ousa sequer tocar a parte de Faithfull. A multidão, no entanto, fica feliz em cantar junto com seu vocal icônico quando a hora chega, celebrando essa parceria única que mudou a face do Metallica.

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