Andrew Watt, um nome que ressoa fortemente na indústria musical, conhecido por suas colaborações com ícones como Rolling Stones, Pearl Jam e, claro, o lendário Ozzy Osbourne, recentemente compartilhou histórias fascinantes sobre sua parceria com o falecido Príncipe das Trevas. Entre essas memórias, destaca-se uma revelação surpreendente: as profundas lições de mixagem que Ozzy lhe transmitiu.
À primeira vista, Ozzy Osbourne talvez não seja a figura que associaríamos a um guru de produção musical. No entanto, Watt faz questão de corrigir essa percepção. “Você tem que entender. Este homem estava fazendo Paranoid quando tinha 21 anos”, lembrou o produtor em uma entrevista à Rolling Stone, sublinhando a vasta experiência e o gênio por trás do vocalista.
Sua carreira de 55 anos foi pautada pela grandiosidade e excelência, sempre no mais alto nível. Watt descreve Ozzy não apenas como uma das pessoas mais inteligentes que já conheceu, um ávido historiador, mas literalmente como um gênio. Essa mente brilhante e multifacetada se estendia também à sua percepção sonora.
O Gênio Inesperado por Trás da Mixagem
Ozzy Osbourne possuía ouvidos incrivelmente reativos. Watt relata que, muitas vezes, parecia que Ozzy não estava prestando atenção – talvez desenhando ou divagando. No entanto, ele ouvia cada mínimo detalhe. “Ele dava uma única frase que cortava fundo, de uma forma positiva”, explicou Watt, evidenciando a acuidade auditiva e a profundidade de seus comentários.
No universo do rock pesado, a percepção auditiva de Ozzy operava em um plano diferente, superior ao da maioria. Era essa sensibilidade apurada que lhe permitia extrair o máximo de cada instrumento e entender a alquimia por trás de uma mixagem verdadeiramente potente e envolvente.
Essa capacidade de mergulhar nos detalhes sonoros era um testemunho de sua paixão inabalável pela música e pela arte de criar. Ozzy não era apenas um performer, mas um verdadeiro artesão do som, dedicando-se a cada camada da experiência auditiva. Sua inteligência e vasta cultura, combinadas com um olhar singular sobre a música, o transformavam em um verdadeiro mentor na arte da produção.
A Supremacia do Baixo: A Lição de Ozzy Osbourne no Rock
Watt compartilhou uma anedota que ilustra perfeitamente a sabedoria de Ozzy. “Ele sempre me dizia: ‘Ouça Led Zeppelin e me diga qual é a coisa mais alta’”. Com sua confiança, Watt prontamente respondia: “É a bateria. John Bonham”. A resposta de Ozzy era direta e surpreendente: “Não, não a bateria. É o baixo.”
Essa afirmação era uma verdadeira revelação para o jovem produtor. Ozzy Osbourne explicou que o baixo é o elemento mais crucial em uma canção de rock. Sua função vai além de apenas acompanhar; ele precisa estar presente, pulsando e cortando a mixagem, fornecendo um senso de ritmo que é a ponte essencial entre a bateria e as guitarras.
É o baixo que confere a verdadeira densidade e o peso à música. Se mixado corretamente, ele permite que as guitarras se destaquem e “rasguem” o som, adicionando camadas de profundidade e agressividade. Ozzy Osbourne enfatizava que fazer o baixo “cortar” a mixagem e, ao mesmo tempo, representar a base, o “bottom”, é uma das tarefas mais desafiadoras e importantes na produção. Era ele quem dava o corpo e a “pegada” que definiam o som do rock pesado.
Sua filosofia era clara: um baixo bem executado e mixado é o coração pulsante do rock. É a força silenciosa que impulsiona a energia da banda e a conexão emocional com o ouvinte. Sem um baixo forte e presente, a música de rock perde grande parte de sua potência e identidade, tornando-se menos impactante e memorável.
Ozzy era profundamente focado no baixo em suas mixagens, assegurando que ele sempre se destacasse. “Se você ouvir os discos que fizemos juntos, há muito baixo nesses discos. ‘Under The Graveyard’ tem muito low-end, se você conferir”, destacou Watt, apontando para a aplicação prática dessa filosofia em suas próprias colaborações e na sonoridade marcante de seus álbuns.
Essa atenção meticulosa não se limitava apenas ao baixo. Ozzy estava envolvido em cada detalhe de cada mixagem, acompanhando de perto para garantir que sua visão sonora fosse plenamente realizada. Era uma prova de seu imenso cuidado e paixão, que se traduzia em resultados de altíssima qualidade.
Um Legado Duradouro Além dos Palcos
Andrew Watt e Ozzy Osbourne desenvolveram uma relação muito próxima nos últimos seis anos da vida do cantor. Watt revelou que falava com Ozzy diariamente, inclusive no dia anterior à sua morte. “Tudo estava normal”, disse Watt sobre aquele dia, tornando a notícia da sua partida um choque gigante e inesperado para todos que o conheciam e o admiravam.
Essa proximidade diária reflete não apenas uma parceria profissional frutífera, mas uma verdadeira amizade e um profundo respeito mútuo. A dedicação de Ozzy Osbourne à música e a cada detalhe de sua produção era uma constante, um testemunho de seu compromisso inabalável com a arte que amava e que o tornou uma lenda mundial.
Apesar de sua persona pública como o “Príncipe das Trevas” e suas performances explosivas, Ozzy Osbourne era, nos bastidores, um mestre da mixagem, um visionário sonoro que entendia a fundo a arquitetura do rock. Suas lições sobre o poder do baixo são um legado valioso que continua a inspirar produtores e músicos, revelando a complexidade e a genialidade por trás de um dos maiores nomes da história do rock. Ele nos mostrou que, muitas vezes, a força está nos fundamentos, naquilo que pulsa silenciosamente no coração da canção.







