No universo do rock, poucas bandas conseguiram ascender ao estrelato com o impacto e a crueza do Guns N’ Roses. Seu álbum de estreia, Appetite for Destruction, lançado em 1987, é amplamente aclamado como uma obra-prima. Ele redefiniu o hard rock, fundindo os refrões pegajosos do glam metal com uma autenticidade e uma energia visceral que muitas bandas da época já haviam abandonado em sua busca pelo topo das paradas. Por um breve período, o Guns N’ Roses fez os outros “palhaços do glam metal” parecerem obsoletos, consolidando-se como uma das maiores forças da música mundial.
Contudo, a carreira da banda é muitas vezes resumida a esse único álbum, e não sem razão. A questão que paira é: será que existiu uma música realmente boa do Guns N’ Roses depois de “Rocket Queen”? Essa pergunta, por si só, já aponta para o que muitos consideram uma queda na qualidade. E, no meio desse material pós-Appetite, existe uma canção que se destaca negativamente, uma verdadeira mancha no legado da banda, a infame One in a Million Guns N’ Roses.
Além de “Appetite for Destruction”: O Declínio Criativo?
A percepção de que o Guns N’ Roses produziu apenas um álbum verdadeiramente excelente pode parecer uma simplificação, mas é um argumento difícil de refutar. Embora muitos fãs apontem para canções como “November Rain”, “Don’t Cry” ou “You Could Be Mine” como exemplos de sucessos posteriores, uma análise mais profunda revela uma verdade incômoda. Essas músicas, que juntas somam mais de 20 minutos de duração, parecem ter apenas cerca de três minutos de composição genuinamente inspirada. O restante frequentemente se perde em arranjos alongados e melodias repetitivas.
Isso sugere que, após o estrondoso sucesso de Appetite for Destruction, o processo criativo musical da banda, em termos de consistência, começou a vacilar. A essência do que fez o debut um clássico parecia se diluir em experimentações que nem sempre resultavam em grandes êxitos. A busca por um novo som muitas vezes resultava em canções que, embora ambiciosas, careciam do impacto direto e da energia de seus primeiros trabalhos.
Mesmo com toda a grandiosidade de Slash e sua coleção de guitarras icônicas, que são uma parte fundamental do som da banda, a magia parecia diminuir em outras áreas da composição. A expectativa por algo que superasse o primeiro álbum era imensa, mas a realidade foi um material que raramente atingia o mesmo patamar de excelência.
O Veredito: A Música Que Ninguém Quer Ouvir
Se o desafio era encontrar uma única canção do Guns N’ Roses pós-Appetite que realmente não precisasse ter existido, a resposta surge de forma quase unânime para quem conhece a fundo a história da banda. A infame One in a Million, lançada no EP G N’ R Lies, se tornou sinônimo de controvérsia e é vista como um verdadeiro embaraço, até mesmo para um ego tão colossal quanto o de Axl Rose.
Esta música é notória por sua virulenta carga de preconceito, a ponto de a banda ter que imprimir um pedido de desculpas na capa do próprio EP. Ela é um testemunho explícito da homofobia e do racismo de Axl Rose, expressos da maneira mais vulgar possível. Muitos, desde a própria banda até seus fãs, podem estar cansados de ouvir sobre isso, mas a discussão é inevitável.
O ponto crucial é que, antes de a maior banda do mundo incluir insultos básicos e vis no álbum que sucedeu sua estreia, uma reflexão mais profunda deveria ter ocorrido. A intenção por trás das letras não era um efeito satírico no estilo “Holiday In Cambodia” do Dead Kennedys; era simplesmente um ataque. As letras de One in a Million Guns N’ Roses não satirizam aqueles que pensam entender as lutas das minorias, mas sim ridicularizam e desvalorizam as próprias minorias.
A canção é, em sua essência, um hino de ódio. Ela manifesta um claro desdém de Axl Rose pelo fato de ter que conviver com gays, imigrantes e pessoas negras. Para aqueles que duvidam da dureza dessa interpretação, basta ler a letra e tentar encontrar uma leitura diferente para essa “rancid hate anthem”.
O Legado de Uma Polêmica Duradoura
A história de “One in a Million” é um lembrete potente de que a chamada “cultura do cancelamento” nem sempre é tão eficaz quanto parece. O Guns N’ Roses, apesar da polêmica avassaladora, continuou sua trajetória de sucesso. Casos como este, e outros mais recentes como o de Morgan Wallen, demonstram que grandes nomes da música conseguem, em certa medida, “se safar” de suas transgressões.
A permanência dessa música no repertório da banda e na memória dos fãs serve como um estudo de caso sobre a complexidade da indústria musical e as consequências (ou a falta delas) para declarações abertamente preconceituosas. É uma cicatriz que permanece no legado do Guns N’ Roses, e, para muitos, essa é a canção que realmente ninguém precisava ouvir. Embora não seja o objetivo deste artigo fornecer links diretos para a letra ou vídeo devido à sua natureza ofensiva, o interesse em compreender o processo criativo musical por trás de tais obras problemáticas persiste, mesmo que para entender o que não deve ser feito.
Em suma, enquanto Appetite for Destruction cimentou o status do Guns N’ Roses como lendas do rock, a canção One in a Million se estabeleceu como um dos pontos mais sombrios de sua discografia. Mais do que uma simples falha criativa, ela representa uma falha de caráter que ecoa até hoje. É uma peça que a banda talvez quisesse apagar, mas que serve como um constante lembrete dos perigos da irresponsabilidade lírica e do impacto duradouro do preconceito na arte.
Guns N’ Roses, One in a Million, Axl Rose, Appetite for Destruction, G N’ R Lies, Hard Rock, Polêmica Musical, Racismo, Homofobia, História da Música.